- Atualizado há 18 horas
Em um período de 30 dias (20 de outubro a 20 de novembro de 2024), a equipe técnica do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), executado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), registrou o encalhe de 146 tartarugas marinhas no litoral paranaense. Dos animais encalhados, apenas três foram encontrados vivos. Durante o período analisado, os indivíduos foram registrados nos municípios de Pontal de Paraná e Matinhos (52), em Guaratuba (13), em Guaraqueçaba (10) e em Paranaguá (7).
Diferente dos anos anteriores, o número de encalhes de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) foi superior ao de outras espécies, que somaram 82 ocorrências para o período. Na costa brasileira são encontradas as seguintes espécies: tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-oliva (Leptochelys olivea) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Além das tartarugas-cabeçudas, no último mês foram encontradas 54 tartarugas-verdes, quatro tartarugas-oliva , uma tartaruga-de-pente e cinco tartarugas marinhas em avançado estágio de decomposição, que impossibilitou a identificação da espécie.
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O encalhe de tartarugas-cabeçudas é frequente nesta época, especialmente entre os meses de julho e dezembro, e pode estar relacionado a pescarias industriais específicas que interagem negativamente com estes animais (conforme pesquisa recém publicada pela equipe do laboratório). De acordo com a bióloga e coordenadora do PMP-BS/LEC-UFPR, Dra. Camila Domit, os encalhes de tartarugas-cabeçudas têm uma relação direta com as atividades humanas.
“A interação humana com o ambiente marinho, como a captura acidental em atividades pesqueiras e o descarte inadequado de resíduos, somada aos efeitos das mudanças climáticas, têm contribuído para o aumento dos encalhes de tartarugas marinhas. É essencial comunicar os resultados a toda a sociedade e incentivar práticas mais sustentáveis, como o uso de tecnologias que minimizem a captura acidental e a redução da poluição marinha. Além disso, a conservação dos habitats costeiros e a implementação de políticas públicas efetivas são passos fundamentais para reverter esse cenário e garantir a sobrevivência dessas espécies ameaçadas”, explica Camila.
Tartarugas-cabeçudas
A tartaruga-cabeçuda é caracterizada por sua grande cabeça e mandíbulas robustas, adaptadas para esmagar crustáceos e moluscos, que compõem sua dieta principal. Essa espécie pode ser encontrada em áreas com águas temperadas e tropicais. No Brasil, utiliza a costa para alimentação e reprodução, com desovas principalmente no litoral norte da Bahia, Sergipe e Espírito Santo.
A espécie enfrenta ameaças como a captura acidental em atividades pesqueiras, interações com lixo marinho, colisões com embarcações, poluição química e sonora, além da degradação de habitats costeiros.
A importância do monitoramento e registro dos animais marinhos mortos
O registro de animais marinhos mortos permite a coleta de dados importantes para a conservação das espécies e de seus habitats. Além disso, contribui para a saúde pública, permitindo a avaliação de doenças emergentes e alterações ambientais. “O monitoramento contínuo realizado pelo PMP-BS é crucial para entender as causas dos encalhes e avaliar o impacto das ameaças enfrentadas pelas tartarugas marinhas. Esses dados fornecem subsídios valiosos para ações de conservação, desde a proteção de habitats até o desenvolvimento de estratégias para reduzir interações negativas com atividades humanas. Além disso, o resgate e reabilitação de animais vivos são fundamentais para garantir a recuperação de indivíduos debilitados e reforçar os esforços de preservação da biodiversidade marinha”, conclui a coordenadora.