- Atualizado há 2 anos
Um músico de Curitiba sofreu agressões por golpes de cassetete no Centro de Curitiba e teve ferimentos no rosto e pelo corpo. Ele precisou de atendimento médico no Hospital Evangélico. O caso aconteceu na terça-feira (22) na rua Doutor Faivre e teve o registro por meio de câmeras de segurança de um prédio comercial (assista abaixo). O músico é negro e o caso está sendo visto como racismo. O agressor está identificado, chegou a ser levado a Delegacia de Polícia, mas liberado em seguida. Ele é conhecido na região por causar confusões e brigas.
Segundo testemunhas, o músico Odivaldo Carlos da Silva, também conhecido como Neno, caminhava pela rua, quando foi atacado por um homem careca, armado com um cassetete, junto de um cão.
Ao Portal Nosso Dia, a professora – que conseguiu as imagens das câmeras de segurança – contou que viu as agressões e ainda acabou sendo ameaçada pelo agressor. “Eu estava atravessando a rua e vi as agressões na minha frente. Perguntei o motivo de ele ter feito isso e ainda fui ameaçada. Consegui ir atrás do homem ferido, depois soube que era um músico, e estava assustado. Acionamos a polícia e uma ambulância”, contou, em entrevista.
“Ele falou na cara que morador de rua vagabundo tinha que apanhar e morrer. Depois eu soube que esse homem já tinha encontrado o Neno perto da casa dele e já tinha o xingado de macaco e preto sujo”, completou ao Portal Nosso Dia.
Segundo a professora, um morador de rua foi agredido por ele, na noite de ontem, enquanto outros vizinhos contaram já terem tido problemas com ele. “Aos poucos, estou descobrindo que esse cara vive armado, criando confusão e agredindo pessoas aqui. Ele está solto, acabei de encontrá-lo, de novo. O que a polícia está esperando? Ele matar alguém?”, critica ela.
O Portal Nosso Dia também conversou com uma gari, da empresa Cavo, que trabalhava no momento das agressões, e integra o time de testemunha que viu tudo. “Estava varrendo, quando esse rapaz falou para o cachorro Thor que estava com ele atacar um senhor negro que estava na frente. Eu olhei pra frente, continuei varrendo e, quando vi, ele se aproximou do homem e bateu com o cassetete assim sem mais nem menos. Fiquei abismada, não entendi nada. Eu perguntei por que daquelas agressões e o cara me mandou ficar quieta, senão iria sobrar para mim, também”, descreveu à redação.
O música precisou ser levado ao Hospital Evangélico. Ele sofreu um corte profundo no rosto, teve um dente quebrado e ainda outras escoriações pelo corpo.
Enquanto o músico estava sendo atendido por uma equipe de socorristas com ferimentos no rosto e no corpo, policiais faziam rondas em busca do agressor.
O Boletim de Ocorrência (B.O) que o Portal Nosso Dia teve acesso informa que ele foi encontrado na rua Francisco Torres, a poucas quadras. Com o agressor, policiais encontraram o cassetete e uma faca. A equipe pediu para ele deixasse o cão em casa, antes de seguir para a delegacia, o que ele acatou. O registro da ocorrência aconteceu no 12º Distrito Policial.
Horas depois, o agressor acabou sendo liberado. Uma audiência está marcada para acontecer em março do ano que vem, no Juizado Especial.
Ao tomar conhecimento sobre a violência, a deputada federal eleita, Carol Dartora, usou as redes sociais para dar visibilidade ao caso. “O que a gente consegue perceber nesse vídeo é mais uma vez a violência que acontece nas ruas de Curitiba, que é racista. Mais uma vez aquilo que a gente tanto denuncia se explicita nesse vídeo, uma violência que fica impune e que ocorre dentro do mês da Consciência Negra”, diz ela – a primeira vereadora e deputada federal negra eleita em Curitiba e no Paraná.
Odivaldo teve um dente quebrado e levou vários golpes na cabeça, na boca, na nuca, no peito, além das mordidas do cachorro. O caso aconteceu na tarde da última terça-feira (22), durante a semana da Consciência Negra.
— Carol Dartora (@caroldartora13) November 26, 2022
Segundo Dartora, o fato de a audiência do caso estar marcada apenas para 2023 demostra descaso. “Eterna impunidade sobre esses crimes de ódio, que parte dessas ideologias infelizmente neonazistas que circulam em algumas mentes na nossa cidade”, lamenta Dartora.
“A gente vai acompanhar esse caso e vamos exigir justiça. O Neno é uma pessoa querida na cidade e não é possível que tenhamos pessoas como essa andando com cacete, armado e com cachorro promovendo essa violência contra as pessoas que vivem em Curitiba. Os negros que fazem parte dessa cidade devem ter respeito e as autoridades precisam se mobilizar para punir essa situação tão bárbara”, finaliza.