- Atualizado há 13 segundos
Nesta segunda-feira (17), a maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) votou favoravelmente a uma moção de protesto contra “a propagação da linguagem neutra” na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Protocolada pelo vereador Eder Borges (PL), em coautoria com Carlise Kwiatkowski (PL), Guilherme Kilter (Novo) e Renan Ceschin (Pode), a moção foi aprovada por 20 a 5 votos.
O fato gerador da moção de protesto foi uma postagem no perfil oficial da UFPR no Instagram, onde, em um vídeo feito por estudantes para a volta às aulas, um acadêmico diz que os calouros são “bem-vindes” à universidade. Chamada de linguagem neutra, a flexão da saudação com a letra “e”, em vez das tradicionais formas no masculino (“bem-vindos”) ou no feminino (“bem-vindas”), foi descrita pelos vereadores como “um assassinato da língua portuguesa”.
Para receber as principais informações do dia pelo WhatsApp entre no grupo do Portal Nosso Dia clicando aqui
“A UFPR foi motivo de chacota na última semana, quando viralizou um vídeo com estudantes dando ‘bem-vindes’ a ‘caloures’. Logo a UFPR, que deveria prezar pela linguagem culta. Ninguém quer proibir, mas se quer falar [todes], vai militar em um partido [político], que a universidade é para ensinar as Ciências”, opinou Eder Borges. Responsável pelo protocolo da moção, ele disse que “ideologização” da universidade está afastando alunos da instituição federal.
“A UFPR antes era motivo de orgulho, hoje está envolvida em ideologia político-partidária. Os pais ficam inseguros e muitos, conservadores, buscam universidades particulares para que seus filhos não estudem lá, por causa da lavagem cerebral que é feita na Universidade Federal do Paraná”, concordou Renan Ceschin. “Eu peço um pronunciamento da Reitoria da UFPR, porque existem alunos conservadores e de direita que são silenciados”, acrescentou Guilherme Kilter.
A aprovação da moção de protesto contra “a propagação da linguagem neutra” na UFPR veio após duas horas de debate em plenário, com opiniões favoráveis e contrárias ao requerimento. Ao final, prevaleceu o entendimento de que os perfis institucionais das instituições públicas devam se restringir ao uso da norma culta, abdicando de utilizar “gírias” ou “dialetos”. “Não pode usar linguagem neutra na comunicação oficial”, afirmou João Bettega (União).
“Ninguém é contra a UFPR, mas contra a linguagem neutra, que veio para assassinar a língua portuguesa”, disse Da Costa (União), resumindo a opinião do grupo sobre as críticas à moção, que acusaram os autores da proposta de utilizarem a postagem no Instagram como, nas palavras de Camilla Gonda (PSB), “pretexto para fazer ataques à universidade pública, gratuita e de qualidade”.
“A UFPR, com dinheiro público, está colocando uma pessoa para promover uma linguagem que não é aceita formalmente no país, e que emburrece as pessoas. O Brasil está seguindo o roteiro do livro ‘1984’, de George Orwell, onde a novilíngua é a linguagem neutra”, acusou Olimpio Araujo Junior (PL). Para Bruno Secco (PMB), “se esse vídeo é o que chegou para o público, imagino como estão as salas de aula”.
“Os concursos públicos exigem a norma culta. Quando você passa no vestibular, faz uma prova que exige a língua formal. Não podemos deixar que os entes federados utilizem a linguagem neutra, que não é a exigida nos concursos”, argumentou a Delegada Tathiana Guzella (União). Para Rodrigo Marcial (Novo), a linguagem neutra foi importada da “esquerda ianque” dos EUA para o Brasil e agora é propagada na UFPR.
“[A moção de protesto] é um ataque velado à universidade pública, gratuita e de qualidade. Não vou admitir retrocesso com a educação. Os vereadores colocaram essa moção, para utilizar como cortina de fumaça, para atacar o ensino público. É uma desculpa para atacar a universidade. São contra a linguagem neutra? Façam um post nas redes sociais e falem com o público de vocês”, rebateu a vereadora Camilla Gonda. Para ela, os vereadores que criticam a UFPR não conhecem a universidade.
“Ninguém obriga ninguém [na UFPR] a falar ‘todes’. Fala quem quer. Independente da aprovação desta moção, a UFPR seguirá sendo uma instituição de excelência. O que me envergonha profundamente é ter vereadores que querem ditar o que ela pode ou não fazer. Qualquer professor de Letras vai rir da cara de vocês. A língua portuguesa é viva e se modifica ao longo da história”, disse Professora Angela (PSOL), que também votou contra a moção. “Não podemos deixar [passar] a imagem de que a Câmara é contra a UFPR, que tem um trabalho muito sério”, acrescentou Marcos Vieira (PDT).
Vanda de Assis (PT) e Laís Leão (PDT) denunciaram o que, na visão das vereadoras, foi uma tentativa de solapar a autonomia universitária da UFPR. “As universidades são autônomas. Os dirigentes são eleitos. A última vez que interferiram nessa autonomia foi na ditadura militar. Bolsonaro tentou interferir e não conseguiu. Esses que atacam a educação pública não passarão”, disse a petista.
“Mais uma vez a Câmara vai virar manchete por temas que não lhe competem. A UFPR não é [está na alçada] da legislação municipal. Eu fico preocupada com a imagem que vocês estão deixando para esta Casa. Deviam se preocupar com a honra da Câmara. Não é competência da Casa legislar sobre uma universidade federal. Gastar esse tempo todo em um ataque à UFPR não é função da Câmara”, repetiu Laís Leão.
*Com informações da Câmara Municipal de Curitiba