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A estudante Ana Júlia Ribeiro, de 21 anos, deve passar a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Curitiba já nos próximos dias. Conhecida por um discurso que viralizou nas redes sociais no ano de 2016, durante as mais de 800 ocupações de escolas no Paraná, a suplente do PT afirma, porém, que não gostaria de assumir o mandato. Amiga de Renato Freitas, ela chega a definir o processo de cassação do vereador como “traumático”.
Em entrevista ao Portal Nosso Dia, Ana Júlia lamentou a cassação de Freitas, que foi aprovada em 2° turno pela Câmara Municipal nesta quarta-feira (22).
“Eu gosto muito do Renato e acho que ele tem um trabalho muito importante. Em 2018, quando ele foi candidato e eu não, ajudei muito na campanha. Estou muito triste com tudo isso que está acontecendo na Câmara, porque eu trabalhei muito para ser eleita em 2020, mas não fui. Eu tenho a compreensão do processo democrático, ainda mais diante de uma pessoa que eu gosto e tenho muito respeito. É muito ruim tudo o que está acontecendo”, comenta.
A cassação de Freitas teve como base um projeto de resolução do Conselho de Ética de que o vereador teria perturbado culto religioso e realizado ato político dentro da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em fevereiro. Em 2° turno, o projeto foi aprovado por 25 votos a 5.
Para Ana Júlia, o racismo institucional está bastante evidente no processo de cassação de Freitas.
“Como o racismo institucional é velado e discreto, a gente muitas vezes não percebe. Eu, falando no lugar de fala de uma pessoa branca, digo que é muito difícil perceber. Mas, neste caso, ele está de certa maneira muito escancarado. A Carol [Dartora] destaca que todos os vereadores que se declaram negros votaram contra [a cassação]. O racismo institucional tem sempre uma justificativa jurídica ou de procedimento. Nos últimos anos, a Câmara teve vários casos contra pessoas brancas e elas não foram cassadas. Essa é a crueldade, porque muitas vezes a pessoa nem consegue enxergar”, explica.
Apesar de acreditar em uma reversão jurídica da cassação, Ana Júlia afirma que está pronta para defender pautas encampadas por Freitas na Câmara.
“O Renato está sendo cassado por posições políticas e não por invasão na igreja. As posições que ele leva, são as mesmas que um eventual mandato meu levará, que são as mesmas da Carol Dartora e da Professora Josete. Mas eu não tenho de fato a expectativa de assumir a cadeira, porque acredito muito na defesa jurídica do Renato e tenho esperanças de que reverta a situação”, concluiu.
Nesta quinta-feira (23), a expectativa é de publicação da perda do mandato pela Mesa Diretora da Câmara. Caso isso aconteça, abre-se prazo de 5 dias para a convocação de Ana Júlia.