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As próximas semanas serão decisivas para Ronaldo, enfim, oficializar a sua candidatura à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Enquanto o Fenômeno manifesta publicamente o desejo de ocupar o cargo, ele se articula nos bastidores para ganhar apoio de federações e da opinião pública. Os movimentos do ex-jogador ocorrem em meio à crise nos bastidores da entidade, que vê Ednaldo Rodrigues pressionado.
Sentar na cadeira da presidência da CBF pode ser encarada como uma missão ousada. Isso porque não há eleição com mais de um candidato desde 1989, quando Ricardo Teixeira derrotou o então vice-presidente da entidade, Nabi Abi Chedid, e hoje Ednaldo tem largo apoio das federações. Sabendo disso, Ronaldo aproveitou a fragilidade do momento vivido pela entidade para jogar os holofotes para si, declarando a candidatura antes mesmo de oficializá-la.
Os rumores de que Ronaldo seria candidato circulavam desde o meio do ano, quando ele negociou a venda de 90% das ações da SAF do Cruzeiro. A intenção se tornou cristalina em 16 de dezembro, quando o herói do Penta foi tema de uma reportagem no Jornal Nacional que anuncia o ex-jogador como aspirante à presidência da CBF. Minutos depois, ele publicou em suas redes sociais para dizer que nunca “saiu do jogo” e que pretende percorrer “todos os cantos do Brasil, ouvir toda essa gente que precisa ser ouvida”.
Sua ideia é apresentar às federações estaduais “um projeto de investimento privado nunca antes visto para o crescimento sustentável do esporte em cada estado do país” e “reconstruir a credibilidade da entidade máxima do futebol brasileiro, com a nossa velha paixão nos novos tempos”, porque, segundo o Fenômeno, o respeito do futebol brasileiro precisa ser resgatado
No dia seguinte, o ex-jogador apareceu novamente na grade da Globo, participando do programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga, comentando a nova empreitada. Para alinhar a aparição no canal de maior audiência do País, Ronaldo se encontrou em um almoço com Paulo Marinho, diretor-executivo do Grupo Globo, na sede da emissora, no Rio de Janeiro.
O encontro foi alinhavado por Rodrigo Paiva, amigo de longa data do Fenômeno. Paiva foi por anos assessor de imprensa do ex-jogador e era até a semana passada chefão da comunicação da CBF. Foi demitido pelo presidente Ednaldo Rodrigues na última quarta-feira, justamente por acompanhar Ronaldo em sua agenda de campanha como opositor de Ednaldo.
Em sua carta de demissão são citados “fatos e circunstâncias que vieram publicamente à tona nesta data”, em referência ao dia 18 de dezembro, quando surgiram rumores de um possível retorno do profissional ao Flamengo – ele deve assumir um cargo no departamento de comunicação do clube – além do envolvimento de seu nome em um processo de assédio movido por uma ex-funcionária contra a CBF.
EM BUSCA DE APOIO
Ronaldo se lançou pré-candidato e, desde então, tem buscado apoio para tornar viável sua candidatura. O ex-jogador da seleção brasileira necessita do apoio de pelo menos quatro das 27 federações, e de quatro clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Sem isso, ele sequer entra na disputa. Pelas regras eleitorais da CBF, na eleição presidencial, o voto das federações tem peso três. Dos clubes da Série A é dois e dos clubes da Série B, um. Logo, é possível ganhar o pleito só com os votos das federações.
Daí a importância de Ronaldo viajar pelo Brasil para angariar apoio dos cartolas. Hoje, o cenário é desfavorável ao Fenômeno – nenhum dos presidentes das federações está contra Ednaldo.
Os dirigentes se movimentam discretamente nos bastidores e evitam declarações favoráveis ao Fenômeno por temerem retaliações políticas e financeiras. Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), até chegou a sinalizar apoiar Ronaldo, mas recuou. Ele é um dos oito vices de Ednaldo e foi um dos que mais reclamou do calendário de 2025.
ALIADOS
Um dos aliados de Ronaldo nessa jornada para costurar apoios é Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians. Eles são amigos há quase duas décadas, desde que o cartola lhe contratou para o Corinthians, clube em que encerrou a carreira. Ambos se reúnem com certa frequência. No mês passado, Andrés foi prestigiar o ex-jogador durante os três dias do Galácticos Open, evento de tênis que Ronaldo organiza anualmente para arrecadar fundos para sua fundação.
Na festa, no fim de novembro, Ronaldo se sentiu valorizado. Àquela época, ele já havia confirmado seu desejo de sentar na cadeira mais importante do futebol brasileiro. Já tinha conversado com cartolas, empresários, ex-jogadores e gente que transita nesse meio. Também tinha feito um pequeno teste com a opinião pública e percebeu que é difícil, mas possível, realizar seu sonho.
“Eu estou ainda processando as respostas das pessoas. Tive ligações de presidente de clube, presidente de federação, ex-jogadores, todo mundo pedindo ajuda para gente”, afirmou o Fenômeno em entrevista ao programa Mais Você da TV Globo.
Ronaldo também busca suporte no Judiciário. Ele pediu ao deputado Aécio Neves, de quem é amigo, que o apresentasse ao ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, justamente quem concedeu liminar para Ednaldo voltar à presidência da CBF em janeiro deste ano. Os dois jantaram na casa do ministro na semana passada, conforme revelou o jornalista Juca Kfouri.
“A gente sabe que ele (Ednaldo Rodrigues) está na cadeira da CBF sob uma liminar do Supremo Tribunal Federal, quando o Tribunal do Rio o afastou. Então temos que estar vigilantes, atentos a toda a movimentação”, constatou o ex-atleta, segundo o qual os torcedores são indiferentes à seleção brasileira.
Outra condição para Ronaldo ser presidente da CBF é não ter vínculo com nenhum outro clube. O Estadão apurou que ele tem negociações adiantadas para vender suas ações do Valladolid, time da segunda divisão da Espanha. O ex-atacante é sócio majoritário e possui atualmente 83% da sociedade. O ex-atleta foi duas vezes a Dubai, onde quer abrir domicílio fiscal para viabilizar a venda e pagar menos impostos. Isso leva tempo e, como ele tem certa pressa, já admite vender por suas ações por menos do que eles valem.
Cabe lembrar que o sistema de votação está sub judice e aguarda votação do STF que pode impactar diretamente na formatação do pleito. Ainda não há data marcada para a eleição na CBF – Ednaldo tem o prazo de um ano, a partir de março de 2025, para convocar o pleito na entidade.