- Atualizado há 7 horas
No coração da Rua XV de Novembro, quase em frente ao Bondinho da Leitura, uma antiga placa na fachada entrega a idade. O Bar Mignon, ponto de encontro de gerações de curitibanos e turistas, completa 100 anos em 2025 mantendo viva a tradição gastronômica. Mais que um bar-restaurante, o local é um patrimônio cultural da capital paranaense.
A história centenária do Bar Mignon se entrelaça com a de Curitiba. Ele acompanhou as mudanças ocorridas em frente à sua porta. Presenciou as modificações da área central, a expansão da urbanização, a verticalização da cidade com as construções dos edifícios, a Rua XV de Novembro ser transformada em um marco de Curitiba quando deixou de ser uma via de carros e tornou-se o primeiro calçadão de pedestres do país, em 1972.
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O Bar Mignon foi fundado pelo imigrante italiano Heitor Amatuzzi. O nome francês, Mignon, significa pequeno, em referência ao tamanho do espaço. No início, era um minúsculo café, com pastel e salgados preparados pela esposa de Heitor, Itália Jeanjauli Amatuzzi, no número 80 da Rua XV de Novembro, onde funcionou por 20 anos.
Um incêndio provocou a mudança, em 1945, para o atual endereço. Essa história está relatada em uma entrevista, não publicada, com Heitor Amatuzzi Júnior. O documento datilografado está guardado na Casa da Memória, da Fundação Cultural de Curitiba. Nele, o filho do fundador do estabelecimento conta que o bar teria sido inaugurado em 1927, mas há uma divergência.
Paulo Cordeiro, marido de Sílvia Amatuzzi, filha de Heitor Amatuzzi Júnior, é o atual gerente do negócio e conta que sempre ouviu falarem que a abertura teria sido em 1925. “Novembro, dia 29, em 1925, foi isso que sempre ouvi na família”, destaca. Paulo administra o Mignon há 32 anos.
A partir de 1950, o local se transformou em um dos bares mais tradicionais da cidade, conquistando o público com seu funcionamento ininterrupto durante a madrugada. Hoje, sob a administração da terceira geração da família, o Mignon preserva seu cardápio clássico, famoso pelos sanduíches de pernil com cebolinha verde, cachorro-quente, filé de alcatra com acompanhamentos e o famoso sanduíche Marchand, que combina vina, pernil e cebolinha verde e mostarda escura.
O sanduíche foi uma criação de um antigo freguês de origem francesa, Rubens Marchand, então vice-presidente do Coritiba Futebol Clube. Ele pediu para misturar os ingredientes do cachorro-quente (a vina) com o pernil. Os outros fregueses começaram a copiar a ideia pedindo “me dá um igual ao do Marchand”.
Essa história é contada por Paulo e também está no livro Bares e Restaurantes de Curitiba: décadas de 1950 e 1960, de Maria do Carmo Brandão Rolim, que está no acervo da Casa da Memória para consulta.
Paulo relata que a partir da mudança de endereço, o Mignon se transformou em um bar e restaurante clássico, atendendo um público majoritariamente masculino, especialmente trabalhadores e frequentadores de clubes da região.
“Com o tempo, os filhos do Heitor introduziram mudanças significativas, ampliando o cardápio, estendendo o horário de funcionamento e modernizando a estrutura. Tiveram visão”, destacou Paulo.
Por muitos anos, o bar funcionava até o último cliente. Por volta de 1988, o fechamento passou a ser às 2h da manhã, e nos anos 1990, foi reduzido para a meia-noite. Atualmente, o bar encerra as atividades às 22h.
Apesar das transformações, o Bar Mignon mantém a tradição e a clientela fiel. O cardápio, segundo Paulo, é o mesmo desde 1960 e reflete qualidade.
O carro-chefe da casa é o sanduíche de pernil, servido no pão francês, e o cachorro-quente, que no início era feito com linguicinha e, depois da Segunda Guerra Mundial, passou a ser preparado com vina, corruptela da palavra wienerwurst, que é a salsicha de Viena. Entre os pratos, o mais pedido é a meia salada com bife.
Muitos governadores e até presidentes da República já passaram pelo Mignon. Entre eles, reza a lenda que Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek já marcaram presenças. Entre as celebridades, o ator Ari Fontoura e o cantor Wanderlei Cardoso. Este último era tão habitué que chegou a enviar um buquê de flores para o casamento de Paulo e Sílvia.
O Bar Mignon fica no calçadão da Rua XV de Novembro, 42 – Centro. Funciona de segunda a sábado, das 11h às 22h. Fechado aos domingos.
*Com informações da SMCS