De um lado Carla Fernanda Oliveira Chagas, de 47 anos, e do outro Marcelino Cândido Gomes, de 63. Pela primeira vez, a esposa do sargento Ricieri Chagas, morto aos 48 anos no assalto a uma transportadora de valores em Guarapuava, região central do Paraná, encontrou uma das pessoas que recebeu um dos oito órgãos doados pela família. Não faltou emoção no abraço entre os dois, na manhã desta terça-feira (25) no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Curitiba.

Encontro entre Carla, esposa do sargento Ricieri, e Marcelino, que recebeu o fígado do policial (Foto: Geovane Barreiro - Portal Nosso Dia)

"Desde o dia do ocorrido a gente não pensou duas vezes em fazer a doação de órgãos. A gente ficava contando os dias para conhecer quem recebeu os órgãos dele, sempre foi um sonho saber as pessoas que foram ajudadas. Foram oito pacientes que receberam. A vida dele se multiplicou", contou Carla, em entrevista ao Portal Nosso Dia.

Durante o abraço, a esposa do sargento falou no ouvido de Marcelino, pedindo que ele fosse muito feliz com o fígado que recebeu. "Eu falei para ele que esperava por esse momento e disse para ele ser feliz, assim como meu marido esperava ser. Quero isso para ele e todos que receberam os órgãos, que receberam uma vida, uma nova esperança. Hoje tivemos o prazer de conhecer um deles", afirmou Carla, que esteve no Quartel ao lado dos dois filhos, de 25 e 26 anos. (Assista mais abaixo o vídeo do momento em que Carla e Marcelino se encontram pela primeira vez)

Marcelino diz que Ricieri está em suas orações (Foto: Geovane Barreiro - Portal Nosso Dia)

Marcelino também não conseguiu conter a emoção. Ele agradeceu o carinho de Carla e disse que o sargento está para sempre em suas orações. "Quando eu recebi o fígado, foi uma alegria muito grande. Depois fiquei sabendo que era do sargento que morreu em Guarapuava. Eu sou muito grato por tudo isso e só tenho a agradecer. Eles agora são parte da minha família", disse.

Marcelino é morador em Loanda, Noroeste do Paraná, e estava em tratamento desde 2013. "O médico falou que eu tinha 35 dias para conseguir um fígado e sobreviver e em 28 dias apareceu. Foi uma alegria muito grande lá em casa. Hoje eu coloco o Ricieri em oração e espero que Deus tenha preparado um lindo lugar para ele", ressaltou.

Encontro entre Carla e Marcelino - Portal Nosso Dia

Homenagem

O encontrou aconteceu durante a solenidade de entrega de medalhas aos policiais militares e civis, do Paraná e de São Paulo, envolvidos na Mega Operação Guarapuava, realizada no dia 20 de setembro deste ano. Ao todo, 44 agentes da segurança pública dos dois estados receberão a “Medalha de Mérito do Comando-Geral – Coronel PM Pedro Scherer Sobrinho” pelo trabalho desenvolvido operação.

O comandante-geral da PM, coronel Hudson Teixeira, afirmou que quando o caso aconteceu os policiais não estavam preparados para este tipo de ação e que essa lição ficou. "Não estávamos preparados mesmo. Um cenário de guerra, indivíduos que vão para o ataque. Nenhuma polícia do país estava preparada. Hoje, nós temos ciência da necessidade de armamento compatíveis para esse tipo de ação", pontuou ao Portal Nosso Dia.

Hudson ainda lembrou com carinho do sargento Riceiri. "A dor passa, mas a cicatriz fica. O que a família dele fez é muito bonito. Isso engrandece ainda mais a pessoa do sargento", disse.

Sargento Ricieri morreu aos 48 anos (Foto: Redes Sociais)

O secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, ponderou que a homenagem nesta terça-feira foi para reconhecer o empenho dos policiais envolvidos. "É a missão cumprida para reconhecer o trabalho dos policiais, especialmente depois daquela noite trágica. Não houve barreira entre as policiais e todos trabalharam em harmonia para a prisão dos envolvidos", salientou.

Policiais homenageados (Foto: Geovane Barreiro - Portal Nosso Dia)

Operação Guarapuava

A Operação Guarapuava foi uma ação conjunta da Polícia Militar do Paraná, da Polícia Civil do Paraná e da Polícia Científica, com apoio das polícias de São Paulo e de Santa Catarina.

Mais de 70 mandados de busca e apreensão e de prisão foram cumpridos em cidades destes três estados.

O trabalho de inteligência da PMPR apurou que os criminosos se uniram para concretizar o crime a partir do domínio do município, fechando os acessos da cidade e agindo com violência e armamento pesado.

Ao todo, ao longo das investigações, 24 pessoas foram presas, 8 suspeitos morreram em confrontos com os policiais e várias armas foram apreendidas.