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Moradores e funcionários de empresas da Cidade Industrial de Curitiba realizaram, nesta quinta-feira (23), uma manifestação contra o bloqueio do principal acesso do bairro à BR-277. O fechamento definitivo do trecho no km 107, na pista em direção ao Parque Barigui, foi executado pela Prefeitura de Curitiba após notificação da Via Araucária, responsável pela administração da rodovia por se tratar de um acesso irregular.
Silvia Lipka, uma das organizadoras do protesto, mora no bairro há 51 anos e afirma que a mobilização é um ato de revolta da comunidade, que pede a abertura de uma nova saída. “Queremos uma solução. A gente está pedindo nosso direito de sair. Aqui é o último acesso que temos à 277”, afirmou.
Ela também destacou a preocupação com situações de emergência. “Se nós tivermos um doente dentro de casa, nós não temos saída. Temos que ir lá na Volvo e esperar 40, 50 minutos para atravessar o sinaleiro e só depois acessar a 277”, disse, se referindo ao acesso mais próximo à rodovia, que está a cerca de 2 quilômetros da comunidade.
O acesso era utilizado há mais de 50 anos e, segundo os moradores, cerca de 450 famílias foram prejudicadas com o bloqueio. Teresinha Belli, que também participou da manifestação, disse ter sido pega de surpresa. “Tiraram nosso direito de ir e vir. Não avisaram nada, não colocaram uma placa. Só ontem fecharam e impediram o trânsito.”
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Júlio César, gerente de uma empresa que tem cerca de 250 funcionários, relata que a medida afetou diretamente a rotina tanto dos colaboradores como de fornecedores e clientes. “O bloqueio do acesso está gerando um grande transtorno para nós, tanto para os caminhões quanto para as transportadoras que vêm retirar nossos produtos. Isso está complicando o deslocamento das mercadorias e o acesso dos funcionários. O ir e vir é um direito de todo cidadão, está na Constituição brasileira”, afirmou.

Com o bloqueio, alguns motoristas desavisados tentaram acessar a rodovia pela marginal ao lado do ponto fechado, o que gera risco de acidentes e insegurança.

A moradora Jacira Spake Schuartz, que vive na região há 25 anos, fez um apelo à concessionária responsável pela rodovia. “Eu peço para a Via Araucária olhar pela população e pelas empresas aqui, e abrir uma saída. A gente está precisando.”
Durante o protesto, moradores bloquearam a passagem de um caminhão da prefeitura e forçaram a retirada de uma defensa metálica (guard-rail). Eles afirmam que, caso não haja resposta das autoridades, devem voltar a protestar e prometem bloquear a rodovia nesta sexta-feira (24), no período da tarde.
Procuradas pelo Portal Nosso Dia, tanto a Via Araucária quanto a Prefeitura de Curitiba se manifestaram sobre o fechamento do acesso. A Prefeitura afirma que o bloqueio atende a uma notificação da concessionária, por se tratar de um acesso irregular, e nega qualquer relação entre a interdição e as obras de drenagem e pavimentação em andamento na Rua Felício Laskoski, no cruzamento com a Anselmo de Lima Filho. A Via Araucária, por sua vez, destaca que o fechamento segue normas técnicas e obrigações previstas em contrato. Leia as notas na íntegra abaixo.
A concessionária Via Araucária esclareceu que devido a forças contratuais e em cumprimento às normas dos órgãos fiscalizadores têm a obrigação de notificar os municípios sempre que são identificados acessos irregulares à rodovia, ou seja, aqueles que não atendem aos padrões de segurança e às diretrizes técnicas do DNIT e da ANTT.
A notificação encaminhada à Prefeitura de Curitiba sobre o caso teve como objetivo solicitar a regularização do acesso existente, o que poderia envolver a melhoria da estrutura atual, a apresentação de um estudo técnico para um novo ponto de acesso ou o fechamento do acesso irregular.
A concessionária afirmou que a decisão pelo fechamento do acesso foi prevista no próprio projeto apresentado pela Prefeitura, analisado e aprovado pela concessionária e pela ANTT.
A aplicação de multa não se refere ao fechamento do acesso em si, mas sim ao eventual descumprimento das cláusulas do CPEU (Contrato de Permissão Especial de Uso), cujo objeto é a implantação do segmento de marginal.
A Via Araucária reforçou que atua de forma colaborativa com os órgãos municipais e estaduais, sempre com o objetivo comum de garantir a segurança viária e o cumprimento das normas que regem o contrato de concessão e a operação das rodovias federais sob sua responsabilidade.
Os trabalhos foram iniciados em novembro de 2024, mas precisaram ser paralisados após notificação da concessionária, por se tratarem de intervenções dentro da faixa de domínio da rodovia. Após análise e autorização da Via Araucária e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), as obras foram retomadas no fim de setembro de 2025, com previsão de conclusão até o fim de dezembro deste ano, dependendo das condições climáticas.
Em nota, a Prefeitura de Curitiba reiterou que o fechamento é definitivo e segue a notificação feita pela concessionária Via Araucária, responsável pela administração da rodovia.
De acordo com a determinação da concessionária, os acessos eram irregulares e estavam em desacordo com as normas técnicas estabelecidas pelo DNIT. O descumprimento da notificação implicará em multa diária de R$10 mil ao Município, conforme previsto no contrato firmado entre as partes.
Segundo a Prefeitura, o fechamento dos acessos não aconteceu devido às obras de pavimentação do município. As intervenções compreendem a implantação de rede de drenagem e pavimentação em um trecho de aproximadamente 280 metros, entre a Rua Anselmo de Lima Filho e o ponto onde já existe asfalto no bairro. O local, até então, era de saibro e não contava com estrutura adequada de escoamento das águas pluviais.