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Passados cinco meses da morte do adolescente Lucas Vicente Machado, de 15 anos, que pegava rabeira com sua bicicleta em um ônibus biarticulado na Linha Verde, a prática continua em Curitiba e também na Região Metropolitana como se nada tivesse acontecido. Adolescentes não apenas se arriscam agarrados a ônibus coletivos em vias e canaletas, como também exibem a prática perigosa e ilícita em perfis nas redes sociais. Encontros coletivos, os chamados “rolezinhos”, são organizados de dia e à noite, filmados e postados nas redes em tom de provocação e deboche. Assista aos vídeos no final da matéria.
Uma das páginas que divulga os encontros tem o lema “De Curitiba para o mundo” e reúne mais de 10 mil seguidores ligados à prática. Em outra, a biografia exibe a mensagem “CWB nóis domina” e ainda pede que vídeos com as manobras sejam enviados para serem postados no perfil. Nessas páginas, os usuários compartilham gravações de manobras nas canaletas, depredação de ônibus e se apoiando nos ônibus com as bicicletas. Chegam até a se vangloriar de reportagens que denunciam a prática e alertam sobre seus riscos. Quando os perfis são desativados por meio de denúncias, os mesmos grupos criam novas páginas e continuam a divulgação.
Não são apenas os vídeos de manobras dos adolescentes apoiados nos ônibus que geram engajamento. Também circulam gravações em que os infratores se envolvem em acidentes. Em uma das imagens, é possível ver um garoto preso pelos pés a um ônibus biarticulado quando um dos pneus da bicicleta se solta, quase provocando uma tragédia na canaleta. Em vídeos como esse, ao abrir os comentários, fica evidente a inconsequência tanto de quem se arrisca na rabeira quanto de quem assiste aos conteúdos. Seguidores riem da situação e desafiam por mais manobras arriscadas.
A prática consiste em se apoiar com a bicicleta na lateral ou na traseira dos ônibus, colocando os pés sob a lataria para ganhar impulso. Além de ilegal, é extremamente arriscada e já provocou dezenas de acidentes. Em 2024, a Urbanização de Curitiba (Urbs) registrou 70 acidentes envolvendo ciclistas e pedestres nas canaletas, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.
Em maio deste ano, a Lei 16.525/25 passou a punir a prática da rabeira, com multa de R$ 600, apreensão do veículo utilizado e aumento de 50% em caso de reincidência. Além da previsão de multa, a Prefeitura de Curitiba reforçou a fiscalização nas canaletas com a criação da Patrulha de Proteção do Transporte Coletivo da Guarda Municipal. Também foi implementada uma nova funcionalidade no painel de controle de toda a frota de ônibus de Curitiba: os motoristas podem acionar a opção “rabeira” no painel ao identificar a ação, o que aciona automaticamente o Centro de Controle Operacional (CCO), responsável por chamar a patrulha especializada.
Campanhas educativas
Ônibus expressos que circulam nas canaletas da capital passaram a ter uma mensagem adesivada no para-choque alertando para o perigo da prática: “Próxima parada: pronto-socorro. Não pegue rabeira”. “Pegar rabeira dá multa de R$ 600 e pode levar à morte.” A iniciativa busca promover conscientização e tentar reduzir o número de casos.
Mesmo com leis, campanhas e fiscalização, relatos de motoristas e vídeos publicados nas redes sociais mostram que muitos continuam ignorando os riscos. Em um dos casos, infratores arrancaram os adesivos educativos de um biarticulado, ridicularizando as ações de conscientização. Tudo é postado nas redes sociais.
Um motorista do transporte coletivo, que faz a linha Santa Cândida Capão Raso, afirmou ao Portal Nosso Dia que a prática continua como se não houvesse lei. “Uma geração que parece não ter limites. Todos adolescentes de 15, 16, 17 anos no máximo. Quando o garoto morreu pegando rabeira, houve uma comoção momentânea, eles diminuíram um pouco, mas logo esqueceram que alguém morreu. Ignoram completamente as orientações. Continuamos trabalhando sob pressão, pois há um risco muito grande, como aconteceu com o adolescente na Linha Verde”, disse, pedindo para não ter o nome revelado.
Em nota ao Portal Nosso Dia, a Guarda Municipal de Curitiba informou que a fiscalização da prática é realizada em parceria com a Urbs:
“A Patrulha de Proteção do Transporte Coletivo trabalha para coibir a prática da rabeira nos ônibus, com rondas diárias nas canaletas onde circulam os biarticulados e nos terminais de ônibus, para garantir a segurança dos motoristas e passageiros do transporte coletivo. Equipes de fiscalização da Urbs passaram a atuar na Muralha Digital para monitorar os terminais de ônibus e as canaletas dos biarticulados, para comunicação direta e mais ágil das ocorrências que envolvem a prática de rabeira em que ciclistas se penduram nos ônibus em movimento para irem mais rápido e a prática de crimes de furtos, roubos e assédios no interior dos ônibus ou nos terminais de passageiros.”
A sanção da lei ocorreu um mês após a morte do adolescente Lucas Vicente Machado, de 15 anos, em abril, quando pegava rabeira com sua bicicleta em um ônibus e foi atropelado por um biarticulado da linha Pinheirinho/Carlos Gomes na Linha Verde.
Na última terça-feira (23), a Câmara Municipal de Curitiba aprovou em segundo turno, com 24 votos favoráveis, o projeto de lei nº 005.00376.2025, que estabelece 26 de abril, em alusão à data do falecimento de Lucas, como o Dia do Uso Seguro das Canaletas de Ônibus. A campanha, integrada ao Movimento Maio Amarelo e a Semana Nacional de Trânsito, prevê atividades em escolas e comunidades para alertar sobre os riscos do uso indevido das canaletas e reforçar o respeito entre os modais no trânsito.
