- Atualizado há 9 horas
Você sabia que a placa original do “táxi fusca” da Loira Fantasma ainda existe? E que a licença de número 30 continua ativa, circulando pelas ruas de Curitiba? Passados quase 50 anos, a lenda urbana ainda desperta curiosidade e mistério. Em busca de novos detalhes para a história, a reportagem especial da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) ouviu taxistas da cidade e um morador antigo do bairro Abranches, local onde o caso surgiu.
O aposentado Eude Alves Batista guarda, até hoje, a placa de metal do “táxi fusca” AT-0030, licença da qual foi dono. Ele garante que a recordação do caso da Loira Fantasma não está à venda. “Eu já tinha mais três placas [licenças], trabalhava sempre com as duas coisas, com a oficina de taxímetro e com o táxi. Então, eu não fiz um alarme, não criei nada em cima daquilo, mas guardei a placa como lembrança do acontecimento”, conta Batista.
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Atualmente, as placas dos táxis de Curitiba não remetem mais à permissão, mas o motorista de um veículo modelo Ônix, placa SDQ-4B46, é quem circula pelas ruas da capital paranaense com a licença de número 30. “Nunca deu azar, muito pelo contrário”, garante o taxista José Carlos Borges de Oliveira, que revela ser o proprietário da permissão desde o ano de 1989.
O caso da Loira Fantasma, tema de diversas versões, ainda provoca questionamentos: teria sido um fenômeno paranormal, uma alucinação coletiva ou uma história criada para vender jornais? Independentemente da resposta, a história tornou-se parte do patrimônio cultural de Curitiba, consolidando-se como a lenda urbana mais famosa da cidade.
E, desde 2009, o projeto Nossa Memória, da Diretoria de Comunicação Social da CMC, resgata histórias como esta, preservando a identidade e a cultura local de Curitiba. Confira, a seguir, os depoimentos à reportagem:
Quando o caso da passageira fantasma veio à tona, o aposentado Eude Alves Batista aponta que fazia cerca de seis meses que Walmir Siqueira dirigia para ele. O AT-0030, conta, era uma das quatro licenças de táxi de sua propriedade, além da oficina de taxímetros mantida até hoje, no bairro Rebouças, em Curitiba. O homem afirma que soube do caso porque foi chamado pelos policiais, naquele dia 20 de maio de 1975, para liberar o veículo.
“Levaram ele e o carro, para ver se ele não estava bêbado. E ele não estava bêbado. Eu garanti a eles que ele não bebia, que eles sempre eram motoristas exemplares, bons”, revela Eude Alves Batista. “Era um cara com sanidade ótima, conversava bem, era calmo”, avalia. “Ele [Siqueira] saiu bem, mas uns dias depois ele ficou com a cabeça meio tombada, só rezava. Essa coisa toda, né, ele mesmo parecia não acreditar no que tinha acontecido”, relembra.
Batista garante que nunca desconfiou do relato de Walmir Siqueira. “Pensei até que aquela coisa estava direcionada a mim, né? Porque, de repente, alguém faz alguma coisa para você, está direcionado a você, mas pega em outro que está no seu lugar”, pondera. “Ele chorava muito quando contava. Então, eu acreditei, para ser sincero, eu acreditei, e eu ainda acredito [na história]. Não tinha porque inventar uma coisa dessa, né?”, explica.
Com a dispensa do carro e sem uma comprovação do que, de fato, havia acontecido, o entrevistado comenta que “pra mim, morreu ali”. No entanto, conforme Batista, Siqueira não quis mais conduzir o veículo, por medo de reencontrar a mulher fantasma. “Eu dizia a ele, isso aí é coisa simples, lê a Bíblia, faz um círculo de orações, mas eu não podia obrigar ele a trabalhar”, continua. Depois do acordo para rescisão trabalhista, eles acabaram perdendo o contato. Batista diz ter ficado sabendo, um tempo depois, por meio da “rádio taxista, formada no boca em boca”, que o antigo motorista havia passado por mais de um hospital psiquiátrico e que acabara falecendo.
“Ninguém queria pegar o meu carro. As moças, de jeito nenhum. Elas saíam da boate lá [na praça Osório] e iam para outro lugar, pegar outro carro. Porque se o meu estivesse na banca, ali, não pegavam mesmo”, revela Batista sobre o impacto da história, nos primeiros meses. Além disso, o entrevistado pontua que nenhum motorista “queria trabalhar com o meu carro, todos tinham medo”.
“A mídia caiu em cima e batia todo dia, né? Todo dia, uma página [dos jornais] era disso. Eu fugia, porque vinham em cima de mim e eu corria. E hoje eu estou aqui com vocês porque eu não trabalho mais”, observa o aposentado. A licença, de acordo com ele, foi vendida por “um quarto do preço”. A placa do “táxi fusca”, no entanto, ficou como recordação da história fantástica. Ela decora as paredes da oficina de taxímetros fundada por Batista e que atualmente funciona no bairro Rebouças, em Curitiba.
“Eu já tinha mais três placas [licenças]. Eu trabalhava sempre com as duas coisas, com a oficina de taxímetro e com o táxi. Então, eu não fiz um alarme, não criei nada em cima daquilo, mas guardei a placa como lembrança do acontecimento. E assim foi até hoje”, assinala. “Muitos já tentaram comprar. Não vendo ela, não.”
As placas dos táxis de Curitiba não estampam mais o número da permissão. No entanto, a licença de táxi de número 30 segue ativa. O antigo “táxi fusca” que ficou famoso por transportar a mulher fantasma deu lugar a um veículo modelo Ônix, placa SDQ-4B46. A licença pertence ao taxista José Carlos Borges de Oliveira, que também possui um salão de cabeleireiros e barbearia no bairro Juvevê.
Único condutor do veículo, o homem conta que sabia de toda a história da Loira Fantasma quando adquiriu a licença, no ano de 1989. “Eu já sabia da história, [ela] está na boca do povo desde então”, diz ele. Ao contrário do que foi divulgado pela imprensa entre 1975 e 1976, Oliveira desmente a fama de que a permissão seria “amaldiçoada”.
“Nunca deu azar, muito pelo contrário”, garante José Carlos Borges de Oliveira. A história, na opinião dele, “é apenas uma criação do motorista da época”. “Sei lá, o cara [poderia estar] transtornado de sono, trabalhando de madrugada, acho que foi mais ou menos isso”, sugere. “Quem trabalha com táxi na madrugada vive de tudo. Tem casos que, se eu disser para alguém, ninguém acredita. Madrugada é outro mundo…”, acrescenta.
Conhecido como “taxista atleta” pela participação em corridas de rua, inclusive em duas São Silvestres, Jorge da Silva também se lembra de toda a repercussão do caso da Loira Fantasma. Assim como a lenda urbana, o homem completará 50 anos de táxi em Curitiba, no próximo dia 17 de dezembro. Apesar de, em maio em 1975, ainda não deter a licença na capital, o catarinense já exercia a profissão em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana.
“Foi uma situação bastante inusitada no meio dos taxistas, né? Porque aquilo gerou muitos comentários na imprensa, todo mundo ficou sabendo. E a gente ficava bastante surpreso porque na profissão de taxista acontecem muitas coisas inusitadas, como já aconteceu comigo, coisa real, verídica. Agora, essa é uma história que até hoje tem um ponto de interrogação”, recorda. “Mas o comentário era enorme e todo mundo fazia de conta que acreditava porque houve muito comentário na imprensa. Tinha taxistas que achavam que era realmente verdade, outros não acreditavam. E o pessoal ia na conversa dos outros, porque é uma história muito esdrúxula, estranha.”
Silva, que também conduzia um “táxi fusca”, lembra que era comum os passageiros perguntarem se ele é quem havia sido “premiado” com a viagem da mulher fantasma. “Tinha muita curiosidade, a curiosidade era intensa, todo mundo comentava, as pessoas entravam no meu táxi e diziam: o senhor não é o taxista da Loira Fantasma? Não, eu respondia, eu tenho uma loira linda em casa e a minha esposa não é a fantasma”, brinca o “taxista atleta”, que coleciona centenas de medalhas e mais de 20 troféus pela corrida de rua, além de já ter sido homenageado na Câmara Municipal, em 2024, com o Prêmio de Mérito Esportivo.
Nas proximidades do cemitério do Abranches, a reportagem encontrou um antigo morador da região, Aloisio Fernando Mickosz, proprietário do bar Casa Velha há cerca de 28 anos. Nascido e criado no bairro, o homem também já presidiu a Sociedade Abranches. Ele traz uma outra versão para a Loira Fantasma, que seria uma garota de programa, de nome Margarete.
“Essa história é o seguinte: era uma moça que trabalhava numa boate em Curitiba, no Centro, e, na época, aqui para o Abranches não tinha ônibus à noite. Aí ela vinha pra casa, pegava o táxi e, chegando perto do cemitério, pedia para parar. O motorista parava, ela descia do carro, pulava o muro do cemitério, saía do outro lado e ia para casa, para não pagar a corrida. Isso ela fez várias vezes”, conta. E por que a lenda urbana surgiu? “Um taxista, quando aconteceu isso com ele, contou que estava com uma loira dentro do carro e que a loira sumiu, mas na verdade ela não sumiu, ela saiu do carro, pulou o muro do cemitério e foi pra casa”, defende.
Mickosz cogita que o motorista, por conduzir o veículo para outra pessoa, talvez precisasse prestar contas do dinheiro daquela corrida. O empresário, que na época em que a história surgiu tinha 11 anos, conta que Margarete era “muito bonita”, jovem e era vizinha da casa onde ele cresceu com a família, no Abranches. “Ela foi morar no litoral e acabaram matando ela. Ela acabou sendo assassinada no litoral”, conclui.
*As informações são da Câmara Municipal de Curitiba