Novos radares foram instalados em Curitiba nos últimos meses (Foto: Divulgação)

'Isso aí tem um nome: Indústria da Multa em Curitiba'. Não é de hoje que essa afirmação vem à tona quando se fala dos radares instalados nas principais ruas da capital, que têm a finalidade de controle de velocidade, avanço de sinal vermelho e fiscalização de outras leis de trânsito. Desde o início do ano, o assunto voltou às rodas de conversa, depois que novos equipamentos foram instalados e houve uma diminuição do limite de velocidade, passando em muitos lugares de 60 km/h para 50 km/h.

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De acordo com a Prefeitura de Curitiba, a capital tinha uma tecnologia de radares que vinha do início do século e que teve o contrato encerrado. Com isso, buscou-se novos radares que, de acordo com a administração, são mais eficazes para a proteção e monitoramento. "Houve essa necessidade e, com isso, passaremos de 150 para 200 cruzamentos monitorados em Curitiba. Eram 604 faixas de trânsito com fiscalização e agora serão 800", contou o gerente de programas de segurança viária da Setran (Superintendência de Trânsito), Gustavo Garret.

Polêmicas

Com a chegada dos novos radares começaram as polêmicas e o uso do termo 'indústria da multa'. O primeiro a falar sobre o tema com criticas foi o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan. Em vídeo divulgado nas redes sociais, ele afirmou que visitar Curitiba significava ganhar uma multa. "Eles não fazem isso pensando na população, mas para arrecadar dinheiro. Curitibano, cuide do seu voto", afirmou.

Publicação de Luciano Hang sobre os radares em Curitiba

De acordo com Garret, apesar da redução, o trânsito ainda mata muito em Curitiba e, por isso, se torna inviável, na visão dele, o não uso de equipamentos de fiscalização. "O radar é o equipamento de fiscalização mais honesto que existe. Quem não comete infração, não é penalizado. O dinheiro que é arrecadado vai justamente para a engenharia e fiscalização de trânsito", ponderou.

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Ele ainda salientou que uma minoria de motoristas é multada. "Em Curitiba, nós temos 1,5 milhão de placas de veículos. Destes, de acordo com os dados da Setran, 0,1% foram multados, então 99,9% da população não foi penalizada. Ou seja, uma minoria infratora é quem recebe a punição, justamente para educar e evitar acidentes. É justo você afirmar que isso é uma indústria da multa? É indústria do infrator, que pune quem não respeita as leis", disse.

O especialista em trânsito, Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito, pontuou que a natureza humana faz com que os radares sejam fundamentais para trazer um trânsito mais seguro.

"Não adianta uma regra rigorosa, que fica apenas nas ameaças. É preciso fiscalizar, porque as pessoas não cumprem as leis. Veja o jogo de futebol, tem profissionais ali, mas eles precisam de um juiz para que as regras sejam seguidas. Sem o juiz, como seria o jogo? O beneficio da fiscalização é evidente. Vivemos em uma época em que as pessoas acham que a opinião vale mais que a ciência, por exemplo", lamentou Mariano.

Redução da velocidade

Outro tema polêmico com os novos radares é o limite de velocidade máxima em algumas vias, como por exemplo a Rua Mario Tourinho, que liga o bairro Batel até a BR-277. Agora, os carros não podem passar de 50 km/h na via. O vereador Denian Couto pediu à Prefeitura de Curitiba esclarecimentos sobre os critérios técnicos para a redução deste limite. "Apresentei um pedido de informações sobre os critérios técnicos de instalação e alterações no sistema de radares e lombadas eletrônicas no município de Curitiba. Existe uma verdade indústria da multa. Por que houve a redução de velocidade em ruas e avenidas da capital?", questionou o vereador em vídeo divulgado nas redes sociais.

(Foto: Daniel Castellanos SMCS)

Para o gerente de programas de segurança viária da Setran (Superintendência de Trânsito), Gustavo Garret, os novos limites de velocidade também buscam diminuir os acidentes e consequentes mortes no trânsito. "Nós fizemos uma tabela com novas hierarquias viárias, onde apenas duas vias têm o limite de 70 km/h (Linha Verde e Comendador Franco). O limite de 60 km/h continua nas que eram chamadas de vias rápidas, 50 km/h em vias coletoras importantes, como a Mário Tourinho, onde há a presença maior de pedestres e bicicletas, 40 km/h nos bairros e 30km/h nas vias calmas", destacou.

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De acordo com Garret, todos estes radares são colocados com placas de sinalização, porque a intenção é fazer com que as leis de trânsito sejam respeitadas em toda via e não se visa, de acordo com ele, a aplicação de multas. "A Setran não coloca radares de qualquer jeito e nem pode fazer isso. Todos os radares cumprem a velocidade da via, com placas de sinalização orientando a presença deles. O condutor precisa saber da responsabilidade de um trânsito seguro, de quantas vidas foram perdidas por imprudência. As ocorrências de trânsito podem e devem ser evitadas", falou.

Para Celso Mariano, as pessoas querem a fiscalização apenas para os outros, mas o trânsito é uma experiência coletiva. "A gente quer a fiscalização especialmente para outro motorista. As pessoas não gostam de ver o agente de trânsito na rua, mas quando alguém bate no seu carro, o agente passa a ser a pessoa mais desejada. A bipolaridade é bem problemática de se resolver e, com ela, é normal surgirem mitos como indústria da multa, pra que reduzir ainda mais, colocar mais radares? Para quem estudar o assunto, não há como diminuir acidentes e mortes sem o olhar da fiscalização", ponderou.