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O presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), Fábio Aguayo, lamentou a decisão da Câmara Municipal de Curitiba de rejeitar a concessão do título de Vulto Emérito ao ator e musicista Alexandre Nero. Segundo ele, os vereadores estão colocando questões ideológicas e políticas acima da meritocracia e do caráter das pessoas.
“A nossa Câmara Municipal de Curitiba está confundindo prioridades, colocando questões ideológicas e políticas acima da meritocracia e do caráter das pessoas. Não importa se alguém torce pelo clube A ou B, ou se pertence ao partido X ou Y. O essencial é que a pessoa seja honesta, de boa índole e represente os sentimentos da sociedade, trazendo alegria e inspiração, seja para a maioria, seja para uma minoria significativa”, afirmou Aguayo.
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O presidente da Abrabar destacou Alexandre Nero já se apresentou em diversas casas noturnas e bares de Curitiba, com dedicação, um talento afinado e emoção ao público, sem qualquer tipo de distinção política.
“Nossa entidade, a ABRABAR, que neste ano completa 20 anos de fundação, em conjunto com as entidades parceiras e filiadas à Confederação Nacional do Turismo (CNTur), realizará uma homenagem ao ator Alexandre Nero. Expressamos aqui nosso profundo lamento e tristeza diante da postura da maioria dos vereadores da Câmara Municipal, que permitiram que questões secundárias ofuscassem o reconhecimento de um talento extraordinário e de inestimável valor para nossa cidade”, concluiu
discussão da proposta durou aproximadamente duas horas, com os vereadores trocando argumentos sobre se o artista merecia ou não a homenagem. Entre os argumentos apresentados contra o artista, está o fato dele ter chamado a classe média curitibana de a cara do facismo em uma postagem na internet.
O Vulto Emérito de Curitiba é a maior honraria a ser concedida pela Câmara dos Vereadores a uma pessoa nascida na capital do Paraná, sendo regulamentado pela lei complementar municipal 109/2018. O projeto de Giorgia Prates defendia que Alexandre Nero é apto a receber tal homenagem por sua trajetória profissional na área da cultura e por “contribuir ao desenvolvimento do Município de Curitiba na realização de fatos em benefício da comunidade, como a idealização e criação da Associação dos Compositores do Município de Curitiba e da realização de peças teatrais e shows musicais”.
No entanto, o debate acerca da homenagem iniciou com falas do vereador João Bettega (União), primeiro inscrito para discutir a proposta. Bettega resgatou uma publicação de Nero, que alegava que o fascimo é a “cara da classe média curitibana”, e então fundamentou seu posicionamento contrário ao projeto. “Alexandre Nero chamou inúmeros curitibanos de fascistas, então acredito que não seja oportuno que os senhores desta casa aprovarem um louvor a um ator que xinga Curitiba”, afirmou o vereador.
João Bettega continuou sua explanação relatando que o ator em questão já havia afirmado que o “curitibano quer impedir a cultura”, posicionamento que foi condenado pelo parlamentar. “Isso não é verdade, nós não podemos dar esse ‘tapa na cara’ dos curitibanos de bem aprovando essa homenagem”, destacou o parlamentar. Bruno Secco (PMB), Da Costa (União), Delegada Tathiana (União), Guilherme Kilter (Novo) e Andressa Bianchessi (União) foram alguns dos vereadores que apoiaram as falas de Bettega, trazendo à tona outras publicações do ator com problemáticas, com possíveis alusões à zoofilia e gordofobia. Sidnei Toaldo (PRD) trouxe o apontamento de que outras pessoas mais envolvidas com Curitiba mereceriam maior valorização.
Para defender sua proposição, Giorgia Prates argumentou que o reconhecimento a Alexandre Nero seria concedido por conta dos trabalhos do ator, e não por suas opiniões nas redes sociais. “Nós temos aqui uma proposta que fala sobre um ator curitibano que tem sido um artista exemplar. Ele é um dos grandes nomes da dramaturgia, da música e da cultura brasileira”, argumentou a parlamentar. Professora Angela (PSOL) e Vanda de Assis (PT) fizeram apontamentos favoráveis às colocações da autora do projeto, destacando as contribuições de Nero no cenário cultural curitibano e nacional, enquanto Jasson Goulart (Republicanos) ponderou sobre o teor das declarações do ator.
Giorgia Prates rebateu as críticas dos vereadores contrários à homenagem, pedindo mais maturidade aos parlamentares ao “levantarem pautas durante a sessão plenária”. A vereadora aproveitou seu momento de fala para trazer à tona comentários dos cidadãos acerca do trabalho desempenhado pelo Legislativo. “Desde o começo tem sido bem complicado trabalhar nessa Casa, sendo motivo de vexame lá fora. Se vocês [vereadores] fossem ouvir o que as pessoas estão falando sobre o que acontece no plenário vocês escutariam a mesma coisa”, declarou Prates. “O debate aqui é extremamente desqualificado”, criticou.
Camilla Gonda (PSB) subiu à tribuna para apoiar a proposta. Ela destacou que se sente “muito preocupada toda a vez que a cultura é atacada na Casa”. Angelo Vanhoni (PT) argumentou que “o que Alexandre Nero contribui para o conjunto da sociedade são as suas mais de 50 obras. O ator tem um belo trabalho como artista, e por isso a Câmara de Curitiba pode aprovar a homenagem”, declarando seu apoio à proposição de Giorgia Prates. O último vereador a discutir o projeto foi Eder Borges (PL), que repudiou a proposta por conta dos posicionamentos do artista, e não por seus trabalhos. “Estamos questionando aqui se ele pode e merece receber o título mais importante dessa Casa, alguém que chamou a maioria dos curitibanos de fascista, e eu penso realmente que não”, declarou. Ao final da votação, a vereadora Laís Leão (PDT) utilizou seu tempo de justificativa para lamentar o tempo gasto na discussão do projeto de lei, que durou aproximadamente duas horas.
No momento da votação em plenário, o painel mostrava a presença de 37 vereadores. Foram contrários à concessão da homenagem Andressa Bianchessi (União), Beto Moraes (PSD), Bruno Rossi (Agir), Bruno Secco (PMB), Da Costa (União), Delegada Tathiana (União), Eder Borges (PL), Fernando Klinger (PL), Guilherme Kilter (Novo), Hernani (Republicanos), João Bettega (União), Lórens Nogueira (PP), Meri Martins (Republicanos), Nori Seto (PP), Olimpio Araujo Junior (PL), Pier Petruzziello (PP), Rafaela Lupion (PSD), Renan Ceschin (Pode), Rodrigo Marcial (Novo), Sargento Tania Guerreiro (Pode), Tiago Zeglin (MDB), Toninho da Farmácia (PSD) e Zezinho Sabará (PSD).
Angelo Vanhoni (PT), Camilla Gonda (PSB), Giorgia Prates (PT), Laís Leão (PDT), Marcos Vieira (PDT), Professora Angela (PSOL) e Vanda de Assis (PT) votaram a favor do projeto, enquanto Serginho do Posto (PSD) e Sidnei Toaldo (PRD) se abstiveram. Tiveram sua presença registrada em plenário, mas não votaram os vereadores Carlise Kwiatkowski (PL), Jasson Goulart (Republicanos), João da 5 Irmãos (MDB) e Leonidas Dias (Podemos). O presidente Tico Kuzma (PSD) votaria apenas em caso de empate, conforme prevê o Regimento Interno da Câmara.