- Atualizado há 9 horas
O aumento dos registros de animais marinhos debilitados por ingestão ou interação com resíduos plásticos acendeu um alerta entre pesquisadores que atuam no Litoral do Paraná. Segundo o Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR), os dados recentes do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) revelam a dimensão de uma crise ambiental que ameaça tartarugas, aves e até pinguins que chegam às praias paranaenses.
De acordo com a bióloga Mariana Lacerda, a situação local reflete um problema global: “O que se observa no Paraná é um retrato de uma crise maior. Resgatar e reabilitar animais é essencial, mas precisamos enfrentar a raiz do problema, rever processos de produção e consumo e fortalecer políticas públicas que garantam gestão eficiente de resíduos. Só assim será possível assegurar um oceano mais saudável no futuro.”
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Durante o inverno, quando há maior incidência de encalhes, equipes do PMP-BS atenderam diversos pinguins-de-Magalhães e tartarugas-verdes com sinais de ingestão de lixo. Fragmentos plásticos encontrados nos organismos prejudicam a digestão e provocam subnutrição, além de inflamações graves.
“Infelizmente, já atendemos casos em que os animais chegaram vivos, mas não resistiram. A presença de plásticos pode causar obstruções e levar à morte. Cada resíduo descartado no mar pode significar uma sentença para a fauna marinha”, alerta a médica veterinária Carolina Jorge, do PMP-BS/UFPR.
No Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde de Fauna Marinha da UFPR (Cred-UFPR), cada animal passa por exames clínicos, laboratoriais e de imagem. Esses dados ajudam não apenas no tratamento individual, mas também no mapeamento dos efeitos do lixo marinho sobre o ecossistema.
Para a pesquisadora Vitória Iurk, compreender os efeitos tóxicos do plástico é fundamental:
“Os resíduos liberam compostos químicos que afetam a imunidade dos animais e geram impactos de curto e longo prazo. Essa realidade exige pesquisas cada vez mais aprofundadas para dimensionar os riscos à saúde dos ecossistemas e até mesmo dos seres humanos.”
A coordenadora do PMP-BS/UFPR, Camila Domit, acrescenta que o desafio é transformar esses registros em informação científica que sustente políticas públicas. “A poluição plástica já faz parte do cotidiano da vida marinha. Investir em inovação e novas tecnologias é urgente para mensurar os impactos e propor soluções.”
Estudos internacionais estimam que milhões de toneladas de lixo plástico chegam aos oceanos todos os anos, transportados por rios, ventos e correntes marítimas. O litoral paranaense, mesmo em áreas remotas, já sente os efeitos desse cenário.
Para a bióloga Liana Rosa, gerente operacional do PMP-BS, cada atendimento é também uma oportunidade de sensibilizar a sociedade:
“Nosso objetivo é devolver os animais à natureza, mas também transformar cada resgate em conhecimento que ajude a reduzir as ameaças e a inspirar mudanças de comportamento.”
A crise no litoral do Paraná mostra que a solução passa pelo esforço conjunto de ciência, gestão pública e conscientização da população. Afinal, o lixo que chega ao mar não respeita fronteiras e ameaça tanto a biodiversidade quanto o equilíbrio ambiental em escala planetária.
*Com informações da assessoria de imprensa