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Família diz que brasileira presa no Camboja foi vítima de tráfico humano; Itamaraty acompanha o caso

Daniela Marys, de 35 anos, teria sido atraída por proposta para trabalhar em empresa de telemarketing
Daniela Marys, de 35 anos, teria sido atraída por proposta para trabalhar em empresa de telemarketing

Estadão Conteúdo

20/10/25
às
7:26

- Atualizado há 3 horas

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A família de Daniela Marys de Oliveirabrasileira de 35 anos que está presa no Camboja, organiza uma ‘vaquinha’ (arrecadação de fundos coletiva) para tentar custear sua libertação e retorno ao Brasil.

“Ela foi vítima de tráfico humano e se encontra presa lá. O dinheiro que estamos arrecadando vai servir para pagar o valor que a empresa cobrou de multa para não ‘vendê-la’ por lá, para pagar o advogado e para trazê-la de volta”, consta na descrição escrita por sua mãe, Miriam.

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Miriam chegou a dar uma entrevista sobre o caso ao Profissão Repórter, da TV Globo, exibido no último dia 7 de outubro. Ela relata que a filha acreditava se tratar de um agência séria de telemarketing, mas, ao chegar ao país, descobriu que teria que aplicar golpes pela empresa. Ao se recusar, foi demitida e informada de uma multa de US$ 4 mil. A família pagou, ao todo, o equivalente a R$ 27 mil, mas não conseguiu a liberação de Daniela.

Daniela Marys continuou mantendo contato com a família utilizando o celular de uma agente da penitenciária onde está presa, em troca de dinheiro. Ela conversou com a reportagem do programa de TV por meio de ligação via internet. “Eu como se eu pago, né? Tudo aqui você tem que pagar. Se não tem dinheiro, você não é ninguém. Eles te tratam igual a um ‘Zé’”, disse.

Imagens mostradas por Daniela Marys dentro de prisão no Camboja ao programa 'Profissão Repórter', da TV Globo, em 7 de outubro de 2025.
Imagens mostradas por Daniela Marys dentro de prisão no Camboja ao programa ‘Profissão Repórter’, da TV Globo, em 7 de outubro de 2025. Foto: Reprodução de ‘Profissão Repórter’ (2025)/TV Globo

A mãe acredita que a jovem foi vítima de uma situação planejada: “Eles armaram para ela. Colocaram droga no banheiro e já foram entrando e detiveram ela. Foi presa com a roupa do corpo, sem direito a um banho, nada. Está dormindo no chão, como um animal”.

Ao jornal O Globo, familiares relataram que a arquiteta embarcou rumo ao Camboja em 30 de janeiro, e que o ‘treinamento’ para a nova função teve início em março, quando Daniela soube que teria de praticar golpes.

No Facebook, é possível encontrar alguns anúncios feitos pelo perfil de Daniela Marys em páginas públicas antes de seu embarque para o Camboja, no dia 19 de janeiro de 2025. Na ocasião, se apresentava como intermediadora entre a empresa cambojana e potenciais candidatos brasileiros. Os salários eram atrativos pelo fato de estarem em dólares, e as supostas vagas também prometiam o pagamento de despesas variadas.

Daniela Marys chegou a divulgar suposta vaga de emprego que, posteriormente, descobriria se tratara de um golpe. Material serve como alerta para propostas de procedência desconhecida encontradas na internet.
Daniela Marys chegou a divulgar suposta vaga de emprego que, posteriormente, descobriria se tratara de um golpe. Material serve como alerta para propostas de procedência desconhecida encontradas na internet. Foto: Reprodução/Facebook

No dia 3 de fevereiro, um usuário chega a alertar: “Hummm, cheirinho de tráfico de pessoas”. O perfil de Daniela Marys, que à época já estaria no Camboja, respondeu em tom irônico: “Brasileiro deve tá (sic) valendo muito mesmo [risos]”.

Estadão buscou contato com familiares de Daniela Marys a respeito do tema, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Procurado, o Itamaraty respondeu que, através da embaixada brasileira na Tailândia, país fronteiriço, já “tem conhecimento do caso”.

“A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira”. O órgão ainda destaca que “emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema.”

Quem é Daniela Marys, brasileira presa no Camboja

Em seu perfil no Linkedin, Daniela Marys afirma ter se formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo trabalhado em empresas de arquitetura entre 2015 e 2023. Posteriormente, passou a se descrever como “mentora de empresários e investidores”. Consta também trabalhos em empresas da Armênia e dos Emirados Árabes Unidos.

Já no Instagram, Daniela se autodefine como “Arquiteta e urbanista, estrategista de negócios, lifestyle, reikiana e risk taker”. Após o ocorrido, sua família criou o perfil @ajudadanimarys para divulgar mais informações sobre o caso. Na postagem inicial, é feito um apelo para que o fato chegue às autoridades: “São muitas famílias em sofrimento. A todas, nossos cumprimentos. Ninguém escolhe ser escravizado”.

Nota do Itamaraty sobre o caso de Daniela Marys

“O Ministério das Relações Exteriores, por intermédio da Embaixada do Brasil em Bangkok, tem conhecimento do caso citado. A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.

A atuação consular do Brasil pauta-se pela legislação internacional e nacional. Para conhecer as atribuições das repartições consulares do Brasil, recomenda-se consulta à seguinte seção do Portal Consular do Itamaraty.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.

O Ministério participa ativamente do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual foram elaborados materiais informativos, como a cartilha ‘Orientações para o Trabalho no Exterior’. Além disso, emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema.”

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