- Atualizado há 3 horas
A família de Daniela Marys de Oliveira, brasileira de 35 anos que está presa no Camboja, organiza uma ‘vaquinha’ (arrecadação de fundos coletiva) para tentar custear sua libertação e retorno ao Brasil.
“Ela foi vítima de tráfico humano e se encontra presa lá. O dinheiro que estamos arrecadando vai servir para pagar o valor que a empresa cobrou de multa para não ‘vendê-la’ por lá, para pagar o advogado e para trazê-la de volta”, consta na descrição escrita por sua mãe, Miriam.
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Miriam chegou a dar uma entrevista sobre o caso ao Profissão Repórter, da TV Globo, exibido no último dia 7 de outubro. Ela relata que a filha acreditava se tratar de um agência séria de telemarketing, mas, ao chegar ao país, descobriu que teria que aplicar golpes pela empresa. Ao se recusar, foi demitida e informada de uma multa de US$ 4 mil. A família pagou, ao todo, o equivalente a R$ 27 mil, mas não conseguiu a liberação de Daniela.
Daniela Marys continuou mantendo contato com a família utilizando o celular de uma agente da penitenciária onde está presa, em troca de dinheiro. Ela conversou com a reportagem do programa de TV por meio de ligação via internet. “Eu como se eu pago, né? Tudo aqui você tem que pagar. Se não tem dinheiro, você não é ninguém. Eles te tratam igual a um ‘Zé’”, disse.
A mãe acredita que a jovem foi vítima de uma situação planejada: “Eles armaram para ela. Colocaram droga no banheiro e já foram entrando e detiveram ela. Foi presa com a roupa do corpo, sem direito a um banho, nada. Está dormindo no chão, como um animal”.
Ao jornal O Globo, familiares relataram que a arquiteta embarcou rumo ao Camboja em 30 de janeiro, e que o ‘treinamento’ para a nova função teve início em março, quando Daniela soube que teria de praticar golpes.
No Facebook, é possível encontrar alguns anúncios feitos pelo perfil de Daniela Marys em páginas públicas antes de seu embarque para o Camboja, no dia 19 de janeiro de 2025. Na ocasião, se apresentava como intermediadora entre a empresa cambojana e potenciais candidatos brasileiros. Os salários eram atrativos pelo fato de estarem em dólares, e as supostas vagas também prometiam o pagamento de despesas variadas.
No dia 3 de fevereiro, um usuário chega a alertar: “Hummm, cheirinho de tráfico de pessoas”. O perfil de Daniela Marys, que à época já estaria no Camboja, respondeu em tom irônico: “Brasileiro deve tá (sic) valendo muito mesmo [risos]”.
O Estadão buscou contato com familiares de Daniela Marys a respeito do tema, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Procurado, o Itamaraty respondeu que, através da embaixada brasileira na Tailândia, país fronteiriço, já “tem conhecimento do caso”.
“A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira”. O órgão ainda destaca que “emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema.”
Em seu perfil no Linkedin, Daniela Marys afirma ter se formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo trabalhado em empresas de arquitetura entre 2015 e 2023. Posteriormente, passou a se descrever como “mentora de empresários e investidores”. Consta também trabalhos em empresas da Armênia e dos Emirados Árabes Unidos.
Já no Instagram, Daniela se autodefine como “Arquiteta e urbanista, estrategista de negócios, lifestyle, reikiana e risk taker”. Após o ocorrido, sua família criou o perfil @ajudadanimarys para divulgar mais informações sobre o caso. Na postagem inicial, é feito um apelo para que o fato chegue às autoridades: “São muitas famílias em sofrimento. A todas, nossos cumprimentos. Ninguém escolhe ser escravizado”.
“O Ministério das Relações Exteriores, por intermédio da Embaixada do Brasil em Bangkok, tem conhecimento do caso citado. A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.
A atuação consular do Brasil pauta-se pela legislação internacional e nacional. Para conhecer as atribuições das repartições consulares do Brasil, recomenda-se consulta à seguinte seção do Portal Consular do Itamaraty.
Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.
O Ministério participa ativamente do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual foram elaborados materiais informativos, como a cartilha ‘Orientações para o Trabalho no Exterior’. Além disso, emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema.”