- Atualizado há 1 mês
Uma equipe do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Setor Palotina, foi a responsável pela cirurgia realizada em um falcão-peregrino natural dos Estados Unidos que estava ferido e foi resgatado de uma propriedade rural. A ave está em processo de recuperação e sendo cuidada para a possibilidade de ser solta na natureza novamente.
O falcão-peregrino, um macho, foi encontrado em um sítio na cidade de Nova Santa Rosa (PR), a 30 km de Palotina. O proprietário acionou as autoridades ambientais e assim a prefeitura do município fez o contato com o Hospital Veterinário da UFPR. Suspeitando do ferimento da ave após ver fotos, o professor Anderson Luiz de Carvalho, coordenador do Serviço de Atendimento de Animais Silvestres e Exóticos (SAAS) do hospital, disse que ele deveria ser trazido imediatamente.
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A ave estava com uma anilha na perna, que é um método de marcação e identificação de animais silvestres. Os veterinários descobriram que aquele falcão-peregrino tinha sido anilhado ainda filhote em Ocean City, cidade no estado de Maryland, Estados Unidos, em março de 2021.
Assim que o animal chegou ao Hospital Veterinário, a equipe realizou a estabilização para o tratamento, com recursos como analgésicos, anti-inflamatórios, hidratação e alimentação. Foi detectada uma luxação em uma das asas, uma cirurgia de urgência e de difícil resolução, segundo o professor Anderson.
“Este procedimento não pode ser feito sem planejamento, então nós tivemos que fazer uma revisão bibliográfica, procurar em artigos qual era o resultado e as técnicas passíveis desse tipo de resolução. Aí elencamos uma das técnicas que era uma tentativa de reposicionamento de tendões que protegem a articulação e a colocação de um fixador para mantê-la travada temporariamente. Utilizamos um planejamento em software, para verificar o posicionamento que ficariam os ossos, e também um treinamento em um cadáver de uma outra ave, para que a gente fizesse a técnica inicialmente nela”, explicou.
Além da dinâmica da lesão e urgência da cirurgia, a equipe teve dificuldades em relação à complexidade da cirurgia em aves, que deve ser realizada o mais rápido possível devido a uma reação do corpo dos animais com anestesias: se o procedimento demorar muito, a ave pode entrar em óbito.
“Mas a cirurgia transcorreu da forma com que a gente esperava, conseguimos fazer esse reposicionamento do cotovelo com o fixador e deu tudo certo, o animal se recuperou bem e já está comendo.” disse o professor.
Agora, o falcão-peregrino está em recuperação. Nas próximas semanas, a equipe vai avaliar se será possível a soltura para a natureza.
“Ainda é cedo para dizer se a resposta vai ser exatamente a resposta que a gente quer, que seria a perfeita funcionalidade da asa e a possibilidade de soltura futura desse animal. A gente ainda não tem certeza que a gente vai conseguir esse objetivo”, afirmou Anderson.
Caso o retorno à natureza não seja possível, o falcão-peregrino será encaminhado a uma instituição especialista na reabilitação deste tipo de ave.
De acordo com o professor Anderson Carvalho, o falcão-peregrino é uma ave que ocorre em regiões do hemisfério norte, como Estados Unidos e países da Europa e Ásia. A migração ao sul é característica da espécie durante os meses de inverno.
“Eles vêm para o Brasil em busca de alimentação, porque lá no hemisfério norte, durante o inverno, fica difícil eles se alimentarem. Eles são, principalmente, caçadores de pombos, e nessa época essa população vai diminuindo, fica mais difícil a caça. Para eles é mais vantajoso que venham migrando para cá para se alimentar, e retornam para o hemisfério norte quando está começando o nosso inverno no Brasil”, explicou.
São várias semanas de voo. O falcão-peregrino viaja cerca de 150 quilômetros por dia, fazendo o percurso pela contornando as costas dos países ou atravessando grandes áreas de mata. Em linha reta, são cerca de 7,3 mil quilômetros de Ocen City, de onde a ave resgatada deve ter partido, até Palotina. Mas a estimativa é que, com os desvios por planícies, a distância seja de pelo menos 10 mil quilômetros.
Pelas características do comportamento migratório da ave, a possível soltura à natureza deve ser feita no momento certo para que ela chegue aos Estados Unidos em clima favorável.
“A ave está numa fase de tratamento medicamentoso e alimentação. Em breve nós vamos remover aquele fixador, porque a gente não pode deixar a asinha dele travada durante tanto tempo, e aí vão começar os trabalhos de fisioterapia. Se ela for solta, teria que ser no período que ela vai retornar para os Estados Unidos, porque senão eles perdem o tempo para chegar até lá, se alimentar e sobreviver”, disse o professor Anderson.