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Emboscada que matou ex-delegado-geral na Praia Grande teve 69 tiros

Foram encontradas 29 perfurações no veículo do ex-delegado-geral
(Foto: Prefeitura de Praia Grande)
Foram encontradas 29 perfurações no veículo do ex-delegado-geral

Estadão Conteúdo

17/09/25
às
8:31

- Atualizado há 10 segundos

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Ao menos 69 tiros foram disparados durante a emboscada que terminou com a morte do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, na segunda-feira, 15. O Estadão teve acesso ao registro do Boletim de Ocorrência da Polícia Civil no qual consta a quantidade de cápsulas encontradas na cena do crime, em Praia Grande, no litoral sul.

Foram levados para a perícia:

. 17 cartuchos 7.62

. 15 cartuchos 9mm

. 31 cartuchos 5.56 mm

. 6 cartuchos danificados

O Estadão também apurou que foram encontradas 29 perfurações no veículo do ex-delegado-geral.

Imagens de câmeras de monitoramento mostram que os criminosos estacionaram um dos carros e ficaram à espera do ex-delegado. Fontes foi morto nesta segunda-feira, 15, após sair da Prefeitura, onde atuava como secretário de Administração. Ele foi alvo de tiros e teve o seu veículo prensado por um ônibus na sequência. Os criminosos ainda desembarcam do carro e fazem diversos disparos.

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Conforme os registros, é possível ver que os criminosos estacionam o veículo na Rua Arnaldo Vittuli por volta das 18h. Eles aguardam por cerca de 15 minutos. Quando o relógio da câmera marca 18h15, é possível ver o carro de Ruy Fontes passando pelos bandidos e sendo alvo de, ao menos, dois tiros. Ele teria saído da Prefeitura pela Rua José Borges Neto antes de entrar na Arnaldo Vittuli. O ex-delegado avança, vira à esquerda para a Rua 1° de Janeiro e colide com um ônibus na Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas.

Segundo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, dois suspeitos foram identificados por meio do reconhecimento de material genético encontrado no carro envolvido no crime e em perícia feita no local do crime.

Linhas de investigação

A força-tarefa criada para investigar o assassinato do ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes apura a ligação de um líder do PCC que deixou um presídio federal há um mês com o crime. A informação foi confirmada ao Estadão por fontes na área da segurança pública.

A investigação não descarta nenhuma possibilidade, mas trabalha com duas suspeitas principais: uma reação do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou retaliação por sua atuação na prefeitura de Praia Grande (SP), onde era secretário de Administração. Não é descartada, porém, nenhuma linha de investigação.

Como delegado, Ferraz Fontes ficou conhecido por seu trabalho contra o PCC. Em 2006, foi o responsável por indiciar toda a cúpula da facção, incluindo Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, antes de os bandidos serem isolados na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). Em 2019, quando Marcola foi transferido para um presídio federal, ele era o delegado-geral, cargo que ocupou até 2022.

Em outra linha de apuração, os investigadores acreditam que o crime possa ter elo com uma licitação, que teria prejudicado uma entidade ligada aos criminosos. Ferraz Fontes era secretário municipal de Administração de Praia Grande desde 2023, em um cargo não ligado à segurança.

Ferraz Fontes foi perseguido pelos criminosos após sair do trabalho, na prefeitura, e colidiu contra um ônibus na tentativa de escapar dos bandidos. Conforme os investigadores, as imagens mostram que a execução foi feita por um grupo treinado: três criminosos saíram do carro, armados com fuzis, para assassinar Ferraz Fontes, e outro bandido ficou no automóvel, para dar retaguarda.

O veículo do ex-delegado-geral, um Fiat Argo preto, não era blindado. Um dos carros usados pelos criminosos foi encontrado depois, mas havia sido queimado. Uma mulher e o filho também foram atingidos durante o atentado. “Foram muitos tiros”, disse uma testemunha, da família dessas vítimas. O caso foi registrado junto à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande e será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com apoio de demais departamentos.

Investigação em 2019 mostrou plano contra ex-delegado-geral

Conforme mostrou o Estadão, uma investigação do Ministério Público acusou Marcola de mandar matar agentes públicos – dentre eles, Ruy Fontes. Para promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) “tudo indica que foi um crime de máfia”.

Em dezembro de 2023, Fontes sofreu um assalto no litoral paulista. Na época, ele já demonstrava preocupação com sua segurança e de familiares, após anos de atuação contra o PCC. Ele e a mulher saíam de um restaurante e iam para casa quando foram abordados. Um dos criminosos apontou a arma para a cabeça do ex-policial. Foram roubados celulares, joias, cartões e a moto do casal. Os suspeitos foram presos em flagrante, e os bens, recuperados.

“Combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo”, disse ao Estadão após o episódio. Ele ainda apontava estar preocupado com a exposição do assalto na mídia e que sua família se sentia ameaçada.

Em maio de 2022, o ex-delegado-geral foi vítima de um assalto, mas na Avenida do Estado, zona sul da capital. Uma dupla em uma motocicleta o abordou, mas desistiu ao perceber que o veículo que Fontes dirigia era blindado. Dois anos antes, em 2020, Fontes sofreu uma emboscada de assaltantes no Ipiranga. Ele reagiu e chegou a balear um dos criminosos, que conseguiu fugir. Já em 2012, o ex-chefe da Polícia Civil foi abordado por dois homens na Via Anchieta, no ABC.

Caso seja confirmada a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) seria a terceira “grande vingança” promovida pela facção contra autoridades que combateram o grupo dentro e fora dos presídios.

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