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Delegada explica o motivo de não indiciar ninguém por explosão que matou nove na RMC

O inquérito policial concluiu que não houve conduta dolosa ou culposa por parte de indivíduos, mas sim falhas sistêmicas e estruturais na gestão de risco e no funcionamento dos equipamentos da fábrica, sem ser possível imputar culpa a uma pessoa
(Foto: Reprodução)
O inquérito policial concluiu que não houve conduta dolosa ou culposa por parte de indivíduos, mas sim falhas sistêmicas e estruturais na gestão de risco e no funcionamento dos equipamentos da fábrica, sem ser possível imputar culpa a uma pessoa

Luiz Henrique de Oliveira

09/10/25
às
13:37

- Atualizado há 22 horas

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A delegada Gessica Andrade, da Polícia Civil do Paraná (PCPR), explicou nesta quinta-feira (9) os motivos que levaram à decisão de não indiciar nenhum funcionário da Enaex Brasil pela explosão que matou nove trabalhadores em agosto deste ano, na unidade da empresa em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba. O inquérito policial concluiu que não houve conduta dolosa ou culposa por parte de indivíduos, mas sim falhas sistêmicas e estruturais na gestão de risco e no funcionamento dos equipamentos da fábrica, sem ser possível imputar culpa a uma pessoa.

A delegada destacou que o inquérito tratou exclusivamente da responsabilidade criminal pelas mortes e que, diante falta de evidência de dolo ou culpa individual, não há base legal para indiciamentos.

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“A minha investigação era para verificar se havia responsabilidade criminal pelas nove mortes, se houve atuação dolosa ou culposa. E isso eu não consegui verificar. Por isso pedi o arquivamento do inquérito na seara criminal exclusivamente”, explicou.

Apesar da decisão, Gessica Andrade reforçou que o caso deve ter desdobramentos nas esferas administrativa, trabalhista e civil.

“Eu acredito que a empresa deva ser responsabilizada nessas instâncias. O relatório será encaminhado ao Ministério do Trabalho e à Polícia Federal, que devem dar continuidade à apuração”, concluiu.

Falhas

Segundo a delegada, a planta onde ocorreu o acidente apresentava sinais avançados de corrosão e dependia de manutenções constantes, muitas delas realizadas de forma improvisada.

Ela acrescentou que o frio intenso da manhã do acidente contribuiu apenas para endurecer ainda mais o material nas bordas e na parte superior do reator, potencializando o risco.

“Era uma planta bem antiga, com bastante sinais de corrosão e que necessitava de muita manutenção. Algumas dessas manutenções eram feitas durante o trabalho, de forma paliativa, com gambiarras — o que não é o que se espera de uma fábrica”, afirmou Gessica.

A investigação mostrou que a unidade 44, onde a explosão ocorreu, operava com equipamentos desgastados e ajustes manuais que tornavam o processo mais vulnerável.

De acordo com a delegada, a principal causa apontada pelos peritos foi uma falha no equipamento, especialmente no controle de temperatura e torque do misturador usado na manipulação de substâncias explosivas.

“O equipamento era ajustado para operar a 50 °C, mas o material só fundia a partir de 70 °C. Ou seja, trabalhavam com parte da mistura ainda endurecida. Acreditamos que o atrito desse material solidificado com as pás do agitador pode ter causado a explosão”, explicou.

“A principal teoria é a falha do equipamento, tanto no torque quanto na temperatura. O misturador deveria parar se encontrasse resistência, mas o torque estava um pouco acima do limite ideal”, detalhou.

A investigação também detectou problemas na qualidade da matéria-prima usada na produção do explosivo.

“Os relatos dos colaboradores e imagens internas indicam que a nitropenta vinha com detritos, borracha, plástico , que, sozinhos, não causariam uma explosão. Mas, se havia borracha, poderia vir também algum material metálico misturado. Isso pode ter contribuído para o acidente”, apontou a delegada.

A Enaex Brasil mantinha um sistema interno de comunicação de desvios, usado pelos funcionários para relatar incidentes e propor soluções. Apesar disso, problemas semelhantes já haviam ocorrido anteriormente, segundo Gessica.

“Eles tinham um processo interno rigoroso, mas insuficiente para evitar o desastre. Houve outras ocorrências com o mesmo tipo de falha. Mesmo com investigações e relatórios, os riscos persistiam”, disse.

A explosão, registrada em 12 de agosto, destruiu parte das instalações da Enaex em Quatro Barras e provocou uma das maiores tragédias industriais da história recente do Paraná.

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