Em meio à área urbana de Curitiba, com prédios, ruas e avenidas agitadas e o movimento dos setores de comércio e serviços, bairros como Augusta, Butiatuvinha, CIC, Lamenha Pequena, Riviera, São Miguel e Umbará ainda conservam redutos agrícolas e de pastagem.

Nestes bairros, chácaras e sítios concentram uma produção diversificada, com cultivo de hortaliças e grãos e criação de gado, que movimenta R$ 16,9 milhões por ano em Valor Bruto da Produção, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado de Agricultura. 

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São cerca de 1.356 hectares de área de produção agrícola e pastagens na cidade, com 123 estabelecimentos. O setor emprega cerca de mil pessoas no município, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

“Embora tenha uma área agricultável diminuta em relação aos demais municípios da Região Metropolitana, Curitiba tem uma produção agropecuária diversificada, com áreas de criação e engorda de gado, cultivo de hortaliças, como alface, brócolis, couve-flor, repolho, rúcula e mudas, além de milho e soja”, diz Marcelo Gomes, economista do Deral.

De pai para filho

Nos bairros da capital, a agricultura é um negócio familiar, que passa de pai para filho.

Maurício Tessari e os irmãos seguem os passos do pai, Alfredo, que começou na agricultura em Curitiba há quase 40 anos. Em uma área de cinco alqueires, a família cultiva hortaliças e frutas no bairro Lamenha Pequena.

Uva, morango, repolho, couve-flor, alface, rabanete, pêssego, ameixa, brócolis, tomate cereja, dentre outros, saem da chácara direto para a feira livre e para a Ceasa de Curitiba. Na propriedade, sete pessoas da família trabalham na lavoura. 

“É de dia até a noite trabalhando direto na agricultura. Como fornecemos para feira, onde temos nossa barraca, temos que ter variedade. Levantamos às duas da manhã e levamos os produtos para vender”, conta. Apesar da rotina pesada, o fato de a lavoura ficar na área urbana de Curitiba facilita a vida, segundo Tessari. “Estamos na cidade e estamos na chácara também. Eu gosto muito dessa mistura e de ter as coisas perto”, diz ele.

Segundo o Deral, dos R$ 16,9 milhões movimentados por ano no setor, a pecuária (gado de engorda) participa com 55% do total, hortaliças, com 35%, e grãos (soja e milho), com 10%. Em 2023, levantamento mais recente do departamento, a receita do Valor Bruto da Produção cresceu 15% em relação a 2022.

Hortas urbanas

Para o economista do Deral, o crescimento é puxado também por conta da ampliação das hortas urbanas, que já representam 20% da produção de hortaliças de Curitiba.

O programa da Prefeitura permite o cultivo em vazios urbanos e conta atualmente com 209 hortas urbanas, que produzem mais de 1.635 toneladas de alimentos por ano, beneficiando mais de 32 mil pessoas. A produção vai para consumo próprio dos moradores, é doada ou vendida.

A horta urbana do Moradias Paraná 1, no bairro Tatuquara, transformou o terreno que antes abrigava um lixão em uma área produtiva, com o cultivo de hortaliças que são doadas a creches e famílias que participam do projeto. Para a aposentada Maria Elizabeth Pereira de Lima, coordenadora da horta comunitária, é uma grande alegria ver que um terreno que estava abandonado, com mato alto e cheio de lixo, se tornou um local produtivo. Lá são produzidos alface, repolho, milho, mandioca, pimenta, cheiro verde, uma infinidade de hortaliças, temperos e ervas para chás e até cana de açúcar, que vão parar na mesa dos moradores da vizinhança. 

“Tudo que é plantado aqui é fresquinho e cultivado sem agrotóxicos, adubado com esterco de galinha e de gado. A maior parte da produção vai para doação, mas o excedente nós vendemos para as pessoas que vêm buscar aqui, que procuram alimentos saudáveis e mais baratos. Eu vendo hortaliças e até o caldo de cana nos grupos do aplicativo de mensagens. Tudo o que a gente planta a terra nos devolve, nos dá”, revelou Maria Elizabeth.   

Alívio no orçamento

A rotina da dona de casa Isabel Silva mudou há um ano e meio, desde que ela começou a participar da horta no Tatuquara. Acorda bem cedinho e vai com o filho, Dionathan de Siqueira, cuidar dos seis canteiros que cultiva. Parte do que eles ajudam a produzir dividem com os parentes e vizinhos. 

“Eu venho quase todos os dias, é uma terapia que ajuda o corpo e a mente, sem contar que alivia um pouco nosso orçamento. Muita coisa que consumimos em casa sai daqui. Mexer com a terra é uma benção, um presente da vida. E os alimentos produzidos aqui têm um sabor diferente, são mais saudáveis e naturais “, ressaltou Isabel.  

A dona de casa Bernadeth Luzia é freguesa da horta há 3 anos. Ela prefere comprar as hortaliças no local porque são mais baratas e colhidas na hora. “Levo couve, alface, almeirão, compro um pouco de cada coisa. Levo para casa alimentos bem fresquinhos e de qualidade e os preços são bons”, destacou Luzia. 

Para a aposentada Antonia Dias de Oliveira, a oportunidade de mexer com a terra é um privilégio. De Santarém, no Estado do Pará, ela foi criada na roça e nunca imaginou que iria trabalhar na terra novamente, ainda mais em Curitiba. “Limpo os canteiros, faço a colheita das hortaliças, saio com a sacola cheia. Consigo economizar com o que eu ia gastar no mercado e além disso faço doação para as minhas filhas e para os vizinhos”, afirmou.

O secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, Leverci Silveira Filho, reforça que o programa oferece todo o suporte técnico necessário. “Os participantes recebem treinamentos teóricos e práticos sobre cultivo e manutenção de canteiros para produção de frutas, hortaliças e temperos sem agrotóxicos. É uma iniciativa que alia saúde e sustentabilidade”, destacou.

*Com informações da SMCS