- Atualizado há 9 horas
A raça de gado de corte paranaense Purunã tem despertado, há algum tempo, o interesse de pecuaristas de diversos estados do Brasil, por ser uma excelente opção de bovinos de corte adaptados a diferentes ambientes. Buscando fortalecer ainda mais o posicionamento do Paraná no cenário nacional da produção de carne bovina, pesquisadores estão desenvolvendo um programa de melhoramento genético da raça, com base em tecnologia genômica de ponta.
O chamado projeto Purunã – Genômica conta com um investimento de R$ 1,1 milhão do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária.
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“Esta pesquisa reúne duas grandes competências do Paraná: a genômica e a pecuária. Ela permitirá mais um salto de competitividade do Paraná, dando ao campo mais uma possibilidade de desenvolvimento econômico”, destacou o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Spinosa.
“A Araucária junto com a Seti tem despendido grande esforço para este ganho de competência científico e tecnológico, aproximando as nossas ICTs, que abrigam cerca de 25 mil doutores, às reais necessidades da sociedade”, acrescentou.
A iniciativa tem como foco principal a identificação de animais com genótipos superiores, capazes de originar futuras gerações com maior desempenho produtivo, o que deve resultar no aumento da produção e na melhoria da qualidade da carne.
“Selecionar animais mais precoces, mais eficientes, e que permanecem menor tempo na propriedade, significa maior renda para o criador”, ressaltou o coordenador do projeto, José Luis Moletta, pesquisador do IDR-Paraná que trabalhou no desenvolvimento da raça desde os estudos iniciais, há mais de três décadas. “Outro foco do projeto é a busca pela identificação de animais mais resistentes a carrapatos, possibilitando economia dos criadores no manejo dos animais, reduzindo os custos de produção e gerando maior bem-estar para o animal”.
Objetivos que podem ser alcançados por meio das técnicas de seleção genômica. “No futuro, pode-se incluir outras características como índice de marmoreio, maciez, eficiência alimentar, Stayability, características reprodutivas e mesmo redução da produção de gases de efeito estufa como o metano, entre outros”, completou o pesquisador.
NA PRÁTICA – Cada bovino vivo da raça Purunã contribuirá com uma mostra de seu material genético. A partir do DNA de cada animal, serão identificados marcadores moleculares do tipo SNP (Single Nucleotide Polymorphism), por meio de um chip com capacidade para analisar cerca de 100 mil desses marcadores.
Com base nessas informações, será realizada uma avaliação genética que integra dados quantitativos de desempenho e informações genômicas dos animais, utilizando técnicas estatísticas avançadas, atribuindo assim a cada bovino um Valor Genético para cada uma das características avaliadas.
A partir desses valores, os animais serão classificados em um índice que permite identificar, de forma precisa, aqueles com maior ou menor potencial produtivo.
“Neste contexto a seleção genômica traz algumas vantagens. Ela pode aumentar a acurácia deste processo de avaliação, nos permitindo ser mais assertivos em escolher os melhores animais e prever o valor genético dos seus descendentes”, explica. “Desta maneira, temos maior certeza de que os animais selecionados realmente poderão gerar proles melhores e com maiores desempenhos”, explica o professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) que integra a equipe, Bruno Ambrozio Galindo.
“Também aplicaremos uma metodologia chamada Associação Genética Ampla (GWAS), que nos permite buscar por marcadores e genes envolvidos na expressão de determinada característica como, por exemplo, a resistência à infestação por carrapatos”, observou Galindo.
AUMENTO DO REBANHO – Dos 3,5 mil animais da raça Purunã do Paraná, 3 mil estão em fazendas experimentais do IDR-PR e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os estudos devem impactar no maior interesse para o aumento do rebanho paranaense.
“Outro ponto muito importante é a multiplicação dos animais melhoradores, que será a continuidade deste projeto. Com o uso de tecnologias reprodutivas como a TE (Transferência de Embriões) e a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), é possível combinar os melhores touros com as melhores matrizes e, inclusive, utilizar vacas de outras raças como receptoras — as chamadas ‘barrigas de aluguel’”, destaca o pesquisador da UFPR, Alexandre Leseur dos Santos, que também integra a equipe de pesquisadores.
“Essa estratégia permitirá expandir o rebanho da raça Purunã de forma mais célere e de modo mais assertivo, para poder atender aos produtores que tenham interesse”, disse.
Na segunda etapa do projeto, os pesquisadores esperam poder fornecer embriões melhorados de Purunã para produtores que tenham interesse em criar a raça.
“Ou mesmo em parceria com os produtores de leite do Estado, que poderiam ‘emprenhar’ as vacas que não tenha interesse que deixe descendentes no rebanho para reposição como, por exemplo, o rebanho leiteiro, com embriões 100% Purunã. Assim, diversificando também as atividades destes produtores que teriam crias com alto valor agregado”, ressaltou Alexandre.
Com a genotipagem dos bovinos da raça Purunã, esta será possivelmente uma das poucas raças do mundo que terá aproximadamente 100% dos seus animais vivos genotipados, gerando grande eficiência no melhoramento da raça e ótimas perspectivas de futuro.
Além das universidades e IDR-Paraná, envolvidos diretamente nos estudos, o projeto Purunã – Genômica conta com uma rede colaborativa envolvendo parceiros internacionais, como o pesquisador Flávio S. Schenkel da University of Guelph (Canadá), uma instituição pioneira na implementação da Seleção Genômica, e a pesquisadora Daniele Lourenço da University of Georgia (USA), que faz parte de um importante grupo que, inclusive, desenvolveu um dos softwares que será utilizado nas análises do projeto.
Há também parcerias com a Associação Brasileira de Criadores de Purunã, com os criadores da raça, com a Embrapa, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade Federal do Oeste do Pará (Unioeste).
RAÇA PURUNÃ – O desenvolvimento do Purunã teve início nos anos 1980, no IDR-Paraná. À época, os pesquisadores observaram que muitos criadores enfrentavam dificuldades para conduzir acasalamentos eficazes, mesmo utilizando inseminação artificial e seleção genética. A proposta era entregar aos criadores um bovino sintético, formado a partir de cruzamentos controlados entre raças já conhecidas – Caracu, Canchim, Charolês e Angus –, oferecendo um pacote genético equilibrado e adaptado à pecuária de corte.
Reconhecida oficialmente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2016, a raça é acompanhada pela Associação Brasileira de Criadores da Raça Purunã (ABCP), responsável pelo controle genealógico dos animais.
A escolha do nome homenageia a Serra do Purunã, que separa o primeiro e o segundo planaltos do Paraná e fica próxima à unidade de pesquisa onde a raça foi desenvolvida.
Purunã se destaca por reunir rusticidade, resistência a parasitas, bom rendimento de carcaça e carne de alta qualidade. Caracu e Canchim conferem robustez e adaptação ao clima. Charolês contribui com velocidade de ganho de peso e bom rendimento, e a Angus agrega precocidade, temperamento dócil e carne marmorizada.
As vacas apresentam boa habilidade materna e produção de leite, favorecendo o desempenho dos bezerros. A raça pode ser usada tanto em sistema puro quanto em cruzamentos com vacas Nelore, com foco em terminação.
*Com informações da AEN