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Amigo de Dallagnol, deputado lavajatista diz que continuidade da presidência de Traiano fere imagem da Alep

Em entrevista exclusiva ao Portal Nosso Dia, Fabio Oliveira questiona os desdobramentos éticos e jurídicos que envolvem o presidente da cada Ademar Traiano
Em entrevista exclusiva ao Portal Nosso Dia, Fabio Oliveira questiona os desdobramentos éticos e jurídicos que envolvem o presidente da cada Ademar Traiano

Angelo Binder, especial para o Nosso Dia

11/12/23
às
8:44

- Atualizado há 1 ano

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Ao contrário da maioria dos parlamentares da Assembleia Legislativa do Paraná que se mantém calada, o deputado estadual Fábio Oliveira (Pode) surpreende – não seus eleitores – ao criticar o envolvimento do presidente da Casa, Ademar Traiano (PSD), com esquema de corrupção. Segundo ele, manter Traiano na Mesa Diretiva prejudica a lisura da Casa.

Desde que veículos de comunicação conseguiram, de fato, noticiar o envolvimento do atual presidente da Alep e do ex-deputado Plauto Miró em um caso de corrupção, poucos deputados (quase nenhum, além de Renato Freitas (PT), têm falado sobre isso. Não é o caso do lavajatista, o deputado Fábio Oliveira.

O acordo firmado por Traiano e Plauto junto ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), no ano passado, deixa explícito que ambos admitiram terem recebido propina do empresário Vicente Malucelli, representante da TV Icaraí, no contrato para produção de conteúdo da TV Assembleia. Parte do acordo foi concedido diante da devolução dos valores, mais multa. Não houve condenação, e sim um acordo, segundo o MPPR, que manteve o processo em sigilo.

Deputado Fábio Oliveira foi eleito em sua primeira disputa para um cargo público em 2022 (Pode) – Foto: Valdir Amaral – Alep

Mesmo diante dos fatos, as últimas sessões ordinárias na Alep foram de silêncio, interrompido pela fala em tribuna de Oliveira, conhecido também por sua amizade com o ex-procurador da República, Deltan Dallagnol, que coordenou a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba.

Em entrevista exclusiva ao Portal Nosso Dia, o parlamentar afirma que a confissão de corrupção por parte do presidente da Alep levanta questões sérias sobre a integridade ética da instituição.

Confira a entrevista com o deputado Fábio Oliveira:

Nosso Dia: A proibição de reportagens gerou uma onda de críticas. Como o senhor avalia essa decisão e seu impacto na liberdade de imprensa?

Deputado Fábio Oliveira:  A proibição das reportagens foi um ato que atentou contra a liberdade de imprensa, um pilar fundamental da democracia. A imprensa livre é essencial para a transparência e responsabilidade dos órgãos públicos. Essa medida, felizmente revogada, mostrou a fragilidade desses princípios em nosso ambiente político.

ND: O senhor enviou sete questionamentos ao Ministério Público. Pode compartilhar conosco alguns desses questionamentos e por que considera essenciais para o esclarecimento do caso?

Deputado Fábio Oliveira: Certamente. Os questionamentos abordam desde o timing do acordo de não persecução penal até as implicações políticas desse episódio após as eleições. É crucial entender os detalhes desse acordo para avaliar sua legitimidade e, principalmente, para que a população possa formar uma opinião informada sobre o processo eleitoral.

Um desses questionamentos é porque esse acordo foi feito após as eleições, em dezembro. Para mim faz muito sentido entender essa pergunta porque, primeiro, foi algo escondido da população paranaense. O paranaense merecia ter acesso a essas informações e esse acordo deveria ter sido trazido às claras antes para que a população pudesse, inclusive, repensar o seu voto. Tenho plena convicção de que o resultado das eleições no Estado do Paraná, principalmente, relacionado aos deputados estaduais seria outro se esse acordo tivesse vindo à tona, antes.

Vendo essa confissão pela ética e moral, uma pessoa admite e continua sendo o ordenador de despesa de um dos poderes paranaenses, que é a Assembleia, e representa, não só o povo, como 53 deputados. O sigilo é o que manteve Traiano como presidente da Alep.

ND: Como o senhor enxerga a situação ética e moral, considerando a confissão de corrupção por parte do presidente da Alep?

Deputado Fábio Oliveira: A confissão de corrupção por parte do presidente da Alep levanta questões sérias sobre a integridade ética da instituição. A população merece representantes que atuem com transparência e honestidade. Essa situação demanda uma reflexão profunda sobre os padrões éticos que devemos exigir de nossos líderes.

ND: Mesmo que o processo ainda esteja em sigilo, a população vai tendo mais conhecimento sobre a situação. De que forma isso afeta a imagem da Assembleia Legislativa do estado?

Deputado Fábio Oliveira: A permanência do deputado Ademar Traiano como presidente e membro principal da mesa diretiva prejudica a imagem da Assembleia Legislativa. Considero que a reputação da casa está comprometida com as alegações de propina feitas contra o presidente Traiano. Acredito que seria um gesto de grandeza se ele renunciasse ao mandato de presidente para preservar a integridade da Assembleia. Já discuti essa questão com outros deputados, inclusive na mesa diretora, expressando minha preocupação e destacando a necessidade de avaliar as ferramentas jurídicas disponíveis dentro da assembleia para abordar essa situação. Eu já tive conversa externa com deputados. Apresentei o meu posicionamento em relação a isso, que é a impossibilidade de manutenção dele como presidente. Então preciso estudar um pouco mais a possibilidade disso ou se é efetivamente através de uma pressão política e, principalmente, uma pressão da população exigindo que ele tome essa atitude de sair e ele mesmo faça.

ND: O senhor mencionou a necessidade de derrubar o sigilo do processo. Por quê?

Deputado Fábio Oliveira:  A transparência é a base da confiança pública. O sigilo do processo pode esconder informações cruciais que afetaram diretamente o resultado das eleições estaduais. Derrubar o sigilo é um passo essencial para garantir que a verdade venha à tona e que a população possa julgar o ocorrido de maneira justa.

ND: Como o senhor avalia a importância de não aderir ao compadrio político, mesmo diante das dificuldades e resistências políticas?

Deputado Fábio Oliveira: O combate à corrupção exige coragem e firmeza de princípios. Não aderir ao compadrio político é uma responsabilidade que assumi em prol da honestidade e da confiança da população. Mesmo diante das dificuldades, mantenho meu compromisso em ser um representante transparente e ético. 

ND: Qual o preço que se paga, Deputado?

Deputado Fábio Oliveira: O preço real disso eu vou descobrir com o passar do tempo porque essa experiência é nova. O que eu percebi é que a minha fala chocou os colegas deputados. Eles não esperavam que falasse no tom que eu falei. Alguns colegas me parabenizaram, disfarçadamente. Recebi congratulações de servidores da casa, obviamente, muito discretos. Mas, o que percebo é que as pessoas dizem: ‘isso precisa ser feito, mas não serei eu’. Então, sobre  o preço que se paga, não vou conseguir dar uma resposta agora.

ND: Suas conversas com Deltan Dallagnol foram mencionadas. Como essas interações influenciam sua posição na luta contra a corrupção?

Deputado Fábio Oliveira: Deltan Dallagnol é uma referência no combate à corrupção e suas orientações foram valiosas. Ele me falou que esse é o caminho certo e que estávamos certos desde o início. Incentivou-me em relação a vários pontos do meu discurso. Acredito que estamos construindo algo significativo. Suas experiências na Lava Jato reforçaram meu compromisso em ser um agente de mudança, mesmo que isso signifique ir contra o status quo político. A luta contra a corrupção é uma causa que transcende interesses pessoais ou partidários. Eu acredito que a gente está num rumo que já tinha desenhado desde 2014, quando ele (Deltan) no Ministério Público, de maneira dedicada a procurador da República, eu, como voluntário, criei um movimento social de combate à corrupção. Mudando as coisas, mas esse ponto nunca fica para trás. E em 2022, eu, sendo eleito deputado estadual, então nós percebemos que isso é uma continuidade daquilo que a gente, tanto ele quanto eu, nos propusemos a fazer e se dedicar.

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